<\/a><\/p>\nO ap\u00f3stolo Pedro j\u00e1 dizia que as cartas de Paulo \u201ccont\u00eam algumas coisas dif\u00edceis de entender\u201d (2Pe 3:16).[1] Ele poderia ter acrescentado que a Ep\u00edstola de Paulo aos G\u00e1latas cont\u00e9m muitas<\/i> coisas dif\u00edceis de entender. Confira uma pequena amostra de declara\u00e7\u00f5es intrigantes dessa carta:<\/p>\nJ\u00e1 os que se apoiam na pr\u00e1tica da Lei est\u00e3o debaixo de maldi\u00e7\u00e3o (3:10).<\/p>\n
Cristo nos redimiu da maldi\u00e7\u00e3o da Lei quando Se tornou maldi\u00e7\u00e3o em nosso lugar (3:13).<\/p>\n
A Lei foi o nosso tutor at\u00e9 Cristo, para que f\u00f4ssemos justificados pela f\u00e9. Agora, por\u00e9m, tendo chegado a f\u00e9, j\u00e1 n\u00e3o estamos mais sob o controle do tutor (3:24-25).<\/p>\n
Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou Seu Filho, […] a fim de redimir os que estavam sob a Lei (4:4-5).<\/p><\/blockquote>\n
\nEm outra carta, tratando do mesmo assunto, Paulo diz ainda:<\/p>\n
Mas agora, morrendo para aquilo que antes nos prendia, fomos libertados da Lei, para que sirvamos conforme o novo modo do Esp\u00edrito, e n\u00e3o segundo a velha forma da Lei escrita (Rm 7:6).<\/p><\/blockquote>\n
<\/p>\n
Lei cerimonial?<\/strong><\/p>\nAo se depararem com textos como esses, muitas pessoas d\u00e3o a seguinte explica\u00e7\u00e3o: quando o ap\u00f3stolo fala \u201cmal\u201d da lei (como nos textos acima), se refere \u00e0 lei cerimonial (que envolvia os sacrif\u00edcios); quando fala bem da lei (dizendo que ela deve ser guardada), se refere \u00e0 lei moral (os Dez Mandamentos).<\/p>\n
Essa solu\u00e7\u00e3o popular resolveria todos os problemas, e poder\u00edamos encerrar nosso estudo aqui.<\/p>\n
Mas existem v\u00e1rias raz\u00f5es para rejeitarmos essa ideia. Uma delas \u00e9 que, de acordo com os especialistas nas cartas de Paulo, o ap\u00f3stolo n\u00e3o faz distin\u00e7\u00e3o entre lei moral e cerimonial.[2]<\/p>\n
Outra raz\u00e3o \u00e9 que Ellen White discordava dessa interpreta\u00e7\u00e3o. Ela escreveu:<\/p>\n
Perguntam-me acerca da lei em G\u00e1latas. Que lei \u00e9 o aio [ou tutor] que nos leva a Cristo? Respondo: Tanto o c\u00f3digo cerimonial como o moral, dos Dez Mandamentos.[3]<\/p><\/blockquote>\n
Talvez G\u00e1latas 3:24 e 25 (que lemos acima) seja o texto mais forte de toda a carta. Comentando especificamente sobre ele, Ellen White diz:<\/p>\n
Nessa passagem, o Esp\u00edrito Santo, pelo ap\u00f3stolo, Se refere especialmente<\/i> \u00e0 lei moral.[4]<\/p><\/blockquote>\n
De acordo com o te\u00f3logo adventista Wilson Paroschi, o fato inevit\u00e1vel \u00e9 que n\u00e3o podemos aceitar<\/p>\n
aquela velha distin\u00e7\u00e3o entre lei moral e lei cerimonial como a chave para se entender a ep\u00edstola. N\u00e3o que n\u00e3o houvesse leis morais e cerimoniais na vida do antigo Israel, mas o ponto \u00e9 que tal distin\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 de forma alguma a solu\u00e7\u00e3o para se interpretar G\u00e1latas ou quaisquer outras passagens em que Paulo parece falar da lei de uma perspectiva negativa.[5]<\/p><\/blockquote>\n
Portanto, ao mencionar a \u201clei\u201d, Paulo est\u00e1 falando de toda a revela\u00e7\u00e3o dada por Deus aos israelitas no monte Sinai, especialmente dos Dez Mandamentos.<\/p>\n
Como, ent\u00e3o, entender esses e outros textos aparentemente negativos sobre a lei?<\/p>\n
<\/p>\n
A chave: G\u00e1latas 3:19-25<\/strong><\/p>\nG\u00e1latas 3:19-25 \u00e9 a grande chave para entendermos as declara\u00e7\u00f5es aparentemente negativas de Paulo sobre a lei. Segundo os estudiosos, esse texto \u201c\u00e9 o ponto central da resposta de Paulo aos problemas na Gal\u00e1cia\u201d.[6]<\/p>\n
No cap\u00edtulo 3 de G\u00e1latas, Paulo argumenta que a lei dada no monte Sinai n\u00e3o anulou o fato de que a salva\u00e7\u00e3o \u00e9 somente pela f\u00e9 (Gl 3:6-9). Portanto, a lei n\u00e3o salva.<\/p>\n
Por que, ent\u00e3o, a lei foi dada no Sinai? Qual era o objetivo dela? Paulo responde essa pergunta em G\u00e1latas 3:19-25. Nesse texto, lemos o seguinte:<\/p>\n
Por que, ent\u00e3o, a Lei? Ela foi adicionada por causa das transgress\u00f5es<\/i><\/strong>, at\u00e9 que viesse o Descendente [Cristo] a quem se fez a promessa. […] A Escritura confinou tudo debaixo do pecado<\/i><\/strong>, para que a promessa, que \u00e9 pela f\u00e9 em Jesus Cristo, fosse dada aos que creem. Antes que viesse a f\u00e9, \u00e9ramos guardados debaixo da Lei, confinados para a f\u00e9 que seria revelada. A Lei se tornou nosso disciplinador, levando-nos a Cristo, para que f\u00f4ssemos justificados pela f\u00e9<\/i><\/strong>. Por\u00e9m, tendo vindo a f\u00e9, j\u00e1 n\u00e3o estamos mais debaixo do disciplinador <\/i>(Gl 3:19-25, minha tradu\u00e7\u00e3o).<\/p><\/blockquote>\n Esse texto diz claramente que a lei teve um come\u00e7o e um fim. Ela teve in\u00edcio na \u00e9poca de Mois\u00e9s, no monte Sinai (\u201cfoi adicionada por causa das transgress\u00f5es\u201d), e teve um fim quando Cristo veio \u00e0 Terra (\u201cat\u00e9 que viesse o Descendente\u201d).<\/p>\n
Mas a lei n\u00e3o \u00e9 eterna? Sim, a lei \u00e9 eterna como Deus, porque \u00e9 a transcri\u00e7\u00e3o de Seu car\u00e1ter. Isso est\u00e1 correto, de outra forma o pecado n\u00e3o teria existido antes de Mois\u00e9s (Rm 5:12; 2Pe 2:4), porque \u201cpecado \u00e9 a transgress\u00e3o da lei\u201d (1Jo 3:4; cf. Rm 4:15). Abra\u00e3o, por exemplo, j\u00e1 guardava a lei de Deus (Gn 17:1, 9; 18:19; 25:6). O livro de G\u00eanesis mostra que os mandamentos que se tornariam parte do Dec\u00e1logo, inclusive o s\u00e1bado (Gn 2:2-3; cf. \u00cax 16:22-30), j\u00e1 eram obedecidos pelo povo de Deus.<\/p>\n
Ent\u00e3o, em que sentido a lei teve um come\u00e7o e um fim?<\/p>\n
Em G\u00e1latas 3:19-25, que citamos acima, as tr\u00eas frases destacadas apresentam uma tr\u00edplice fun\u00e7\u00e3o da lei:<\/p>\n
\nO motivo<\/i><\/strong> de a lei ter sido dada: a apostasia dos israelitas no Egito. A lei \u201cfoi adicionada por causa das transgress\u00f5es\u201d (Gl 3:19). Em outro texto, Paulo apresenta a mesma ideia: \u201cA Lei foi introduzida para que a transgress\u00e3o fosse ressaltada\u201d (Rm 5:20). Portanto, a<\/i> a lei revela o pecado<\/i>.<\/li>\nO resultado<\/i><\/strong> <\/i>de a lei ter sido dada: condenou os transgressores \u00e0 morte. \u201cA Escritura confinou tudo debaixo do pecado\u201d (Gl 3:22). A mesma ideia est\u00e1 presente neste texto: \u201cSabemos que tudo o que a Lei diz, o diz \u00e0queles que est\u00e3o debaixo dela, para que toda boca se cale e todo o mundo esteja sob o ju\u00edzo de Deus\u201d (Rm 3:19). Para quem ainda n\u00e3o foi salvo, a lei traz morte (2Co 3:6-7) e condena\u00e7\u00e3o (v. 9). Portanto, a lei condena o pecador.<\/i><\/li>\nO prop\u00f3sito<\/i><\/strong> <\/i>de a lei ter sido dada: fazer os pecadores sentirem necessidade de Cristo, conduzi-los a Ele. \u201cLevando-nos a Cristo, para que f\u00f4ssemos justificados pela f\u00e9\u201d (Gl 3:24). Portanto, a lei conduz a Cristo.<\/i><\/li>\n<\/ol>\n Resumindo, a lei:<\/p>\n
\nrevela o pecado,<\/li>\n condena o pecador e<\/li>\n conduz a Cristo.<\/li>\n<\/ol>\nPortanto, quando Paulo fala de maneira \u201cnegativa\u201d sobre a lei, ele se refere a essa tr\u00edplice fun\u00e7\u00e3o relacionada com o pecado<\/i><\/strong>.<\/i><\/p>\n \u00c9 importante notar que, embora essa fun\u00e7\u00e3o da lei esteja presente na vida de todo \u00edmpio, a \u00eanfase de Paulo est\u00e1 na hist\u00f3ria de Israel. No Egito, os israelitas haviam perdido a no\u00e7\u00e3o do verdadeiro Deus, do certo e do errado, e agora precisavam reaprender. O que aconteceu no Sinai teve essa fun\u00e7\u00e3o: a lei em t\u00e1buas de pedra para ensinar que eles eram pecadores e o ritual do santu\u00e1rio para ensinar a solu\u00e7\u00e3o (o Salvador).<\/p>\n
Ellen White resume muito bem as ideias b\u00e1sicas de G\u00e1latas 3:19-25:<\/p>\n
A lei de Deus, proclamada em terr\u00edvel majestade do Sinai, \u00e9 a declara\u00e7\u00e3o de condena\u00e7\u00e3o ao pecador. A fun\u00e7\u00e3o da lei \u00e9 condenar<\/i>, mas n\u00e3o h\u00e1 nela nenhum poder para perdoar ou redimir. […] Ela traz […] escravid\u00e3o e morte aos que permanecem debaixo de sua condena\u00e7\u00e3o.[7]<\/p>\n
\u201cA lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela f\u00e9 f\u00f4ssemos justificados\u201d (Gl 3:24). Nessa passagem, o Esp\u00edrito Santo, pelo ap\u00f3stolo, Se refere especialmente \u00e0 lei moral. A lei revela nosso pecado, levando-nos a sentir nossa necessidade de Cristo<\/i><\/i> e a fugir para Ele em busca de perd\u00e3o e paz por meio do arrependimento para com Deus e da f\u00e9 em nosso Senhor Jesus Cristo.[8]<\/p><\/blockquote>\n
<\/p>\n
Os Dez Mandamentos foram abolidos?<\/strong><\/p>\nEm v\u00e1rios textos, Paulo diz explicitamente que a lei foi abolida por Cristo. J\u00e1 vimos dois textos no in\u00edcio do estudo:<\/p>\n
Mas agora, morrendo para aquilo que antes nos prendia, fomos libertados da Lei, para que sirvamos conforme o novo modo do Esp\u00edrito, e n\u00e3o segundo a velha forma da Lei escrita (Rm 7:6).<\/p>\n
A Lei foi o nosso tutor at\u00e9 Cristo, para que f\u00f4ssemos justificados pela f\u00e9. Agora, por\u00e9m, tendo chegado a f\u00e9, j\u00e1 n\u00e3o estamos mais sob o controle do tutor (Gl 3:24-25).<\/p><\/blockquote>\n
H\u00e1 outros textos, como os seguintes:<\/p>\n
[Cristo] aboliu, na Sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenan\u00e7as, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz (Ef 2:15, ARA).<\/p>\n
[Cristo] cancelou a escrita de d\u00edvida, que consistia em ordenan\u00e7as, e que nos era contr\u00e1ria. Ele a removeu, pregando-a na cruz (Cl 2:14).<\/p><\/blockquote>\n
Se Paulo n\u00e3o faz distin\u00e7\u00e3o entre lei moral e lei cerimonial, como, ent\u00e3o, entender o fato de que a lei foi abolida?<\/p>\n
Para responder a essa pergunta, precisamos lembrar que Paulo enfatiza a tr\u00edplice fun\u00e7\u00e3o da lei<\/i> relacionada com o pecado:<\/p>\n\nrevelar o pecado,<\/li>\n condenar o pecador e<\/li>\n conduzir a Cristo.<\/li>\n<\/ol>\nO te\u00f3logo \u00c1ngel Manuel Rodr\u00edguez, que, durante v\u00e1rios anos, foi diretor do Instituto de Pesquisa B\u00edblica da sede mundial da Igreja Adventista do S\u00e9timo Dia, assim resume as ideias centrais de G\u00e1latas:<\/p>\n
A fun\u00e7\u00e3o da lei n\u00e3o era dar vida eterna; caso contr\u00e1rio, a pessoa seria justificada por meio da lei (Gl 3:21). Em G\u00e1latas 3, Paulo atribui \u00e0 lei um papel espec\u00edfico<\/i>: ela \u00e9 o carcereiro que impede a fuga dos prisioneiros (v. 23) e se certifica de que eles est\u00e3o debaixo da maldi\u00e7\u00e3o, merecendo a morte (v. 13). [Em outras palavras, a lei, como j\u00e1 vimos, tem uma fun\u00e7\u00e3o relacionada com o pecado.]<\/p>\n
Mas a lei teve essa fun\u00e7\u00e3o <\/i>apenas por um per\u00edodo limitado de tempo, at\u00e9 a vinda do Salvador prometido. Paulo compara a lei a um tutor que nos leva a Cristo (v. 24). Ele nos livrou da maldi\u00e7\u00e3o da lei e da pris\u00e3o do pecado, quando nasceu debaixo da lei (4:4-5) e Se tornou maldi\u00e7\u00e3o por n\u00f3s (3:13).[9]<\/p><\/blockquote>\n
O mesmo autor explica em que sentido \u201cCristo \u00e9 o fim da lei\u201d (Rm 10:4):<\/p>\n
Cristo deu fim \u00e0 fun\u00e7\u00e3o condenat\u00f3ria<\/i> da lei para os que creem nEle (Rm 8:1). Al\u00e9m de n\u00e3o ter a capacidade de conceder vida eterna (Gl 3:21), a lei, fora de Cristo, condena os pecadores \u00e0 morte. Mas Cristo veio, nasceu debaixo da lei (Gl 4:4) e a obedeceu perfeitamente. Ele escolheu nos redimir da maldi\u00e7\u00e3o da lei ao Se tornar maldi\u00e7\u00e3o em nosso lugar (Gl 3:13). O que era nossa puni\u00e7\u00e3o ou condena\u00e7\u00e3o legal e justa, Jesus tomou sobre Si mesmo como nosso substituto, trazendo ao fim esse aspecto<\/i> da lei em nossas vidas. Sendo que Cristo deu fim ao aspecto condenat\u00f3rio<\/i> da lei, n\u00e3o h\u00e1 absolutamente nenhuma necessidade de permanecermos em inimizade contra Deus.[10]<\/p><\/blockquote>\n
Para n\u00f3s, que j\u00e1 fomos salvos pela gra\u00e7a, a lei n\u00e3o mais desempenha sua tr\u00edplice fun\u00e7\u00e3o condenat\u00f3ria. Em outras palavras, a lei:<\/p>\n
\nn\u00e3o mais revela nosso pecado, pois j\u00e1 fomos perdoados;<\/li>\n n\u00e3o mais nos condena, pois j\u00e1 estamos livres da condena\u00e7\u00e3o e<\/li>\n n\u00e3o mais nos conduz a Cristo para sermos salvos, pois j\u00e1 fomos salvos.<\/li>\n<\/ol>\nSimplificando, podemos dizer que, por meio da morte de Cristo, fomos libertados da condena\u00e7\u00e3o da lei. Nesse sentido espec\u00edfico, e somente nesse sentido<\/i>, os Dez Mandamentos foram abolidos na cruz.<\/p>\n
<\/p>\n
E a obedi\u00eancia?<\/strong><\/p>\nComo podemos ter certeza de que a aboli\u00e7\u00e3o da lei se refere somente \u00e0 fun\u00e7\u00e3o condenat\u00f3ria da lei, e n\u00e3o \u00e0 obedi\u00eancia em si?<\/p>\n
G\u00e1latas 3:19-25 \u00e9 um dos textos aparentemente negativos<\/i> de Paulo a respeito da lei, em que ele fala sobre a fun\u00e7\u00e3o da lei em condenar os transgressores e faz\u00ea-los sentir a necessidade do Salvador. Mas, al\u00e9m desses, existem muitos textos positivos<\/i>, em que Paulo enfatiza a cont\u00ednua validade da lei e fala sobre uma fun\u00e7\u00e3o da lei que sempre existiu e sempre existir\u00e1: revelar a vontade de Deus para a vida de Seus filhos.<\/p>\n
Em Romanos 6:15, Paulo faz quest\u00e3o de explicar que os salvos (isto \u00e9, os que est\u00e3o debaixo da gra\u00e7a e n\u00e3o mais debaixo da lei) n\u00e3o est\u00e3o de forma nenhuma livres para desobedecer. Ou seja, a salva\u00e7\u00e3o n\u00e3o nos isenta da obedi\u00eancia \u00e0 lei, visto que pecado \u00e9 precisamente a transgress\u00e3o da lei (Rm 7:7; 1Jo 3:4). Estar debaixo da gra\u00e7a significa tornar-se servo de Cristo para a obedi\u00eancia e para a santidade (Rm 6:16-18).<\/p>\n
Paulo jamais ensinou que a lei n\u00e3o mais precisa ser obedecida. \u00c9 exatamente o oposto: em G\u00e1latas 5 e 6, por exemplo, o ap\u00f3stolo mostra que a morte de Cristo e o poder do Esp\u00edrito Santo capacitam o crist\u00e3o a viver de acordo com a lei de Deus (Gl 5:23). Quando somos \u201cguiados pelo Esp\u00edrito\u201d, n\u00e3o mais estamos \u201cdebaixo da lei\u201d, isto \u00e9, condenados por ela (v. 18). Em vez disso, somos habilitados a cumprir \u201ctoda a lei\u201d (v. 14; cf. Rm 13:8-10).<\/p>\n
A mesma ideia aparece em outras cartas de Paulo. Cristo morreu para tornar poss\u00edvel a n\u00f3s guardarmos a lei (Rm 8:4). Hoje, Deus, por meio do Esp\u00edrito Santo, escreve Sua lei em nosso cora\u00e7\u00e3o (Hb 8:10; 10:16). Paulo citou v\u00e1rios mandamentos espec\u00edficos da lei, mostrando que ela continua a ser um guia para o comportamento crist\u00e3o (Rm 13:9; 1Co 10:14, 20-21; Ef 6:1-2).<\/p>\n
A conclus\u00e3o \u00e9 evidente: para quem ainda n\u00e3o foi salvo<\/i>, a fun\u00e7\u00e3o da lei \u00e9 mostrar o pecado e condenar o pecador para que ele sinta a necessidade de Cristo; mas, para quem j\u00e1 foi salvo <\/i>pela gra\u00e7a, a lei mostra a santa e imut\u00e1vel vontade de Deus. Quando estudamos G\u00e1latas, o conhecido texto se torna ainda mais poderoso: \u201cAnulamos ent\u00e3o a lei pela f\u00e9? De maneira nenhuma! Ao contr\u00e1rio, confirmamos a lei\u201d (Rm 3:31). Em vez de se opor \u00e0 lei, a f\u00e9 \u00e9 o \u00fanico meio de obedecer a ela.<\/p>\n
N\u00e3o precisamos temer o fato de que os Dez Mandamentos, em sua fun\u00e7\u00e3o condenat\u00f3ria, foram abolidos. A mesma lei que foi abolida e encravada na cruz, agora \u00e9 escrita em nosso cora\u00e7\u00e3o pelo Esp\u00edrito Santo! Na Ep\u00edstola aos Hebreus, o ap\u00f3stolo declara:<\/p>\n
O Esp\u00edrito Santo tamb\u00e9m nos testifica a este respeito. Primeiro Ele diz: \u201cEsta \u00e9 a alian\u00e7a que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor. Porei as Minhas leis em seu cora\u00e7\u00e3o<\/strong> e as escreverei em sua mente\u201d; e acrescenta: \u201cDos seus pecados e iniquidades n\u00e3o Me lembrarei mais\u201d (Hb 10:15-17).<\/p><\/blockquote>\n <\/p>\n
Conclus\u00e3o<\/strong><\/p>\nEm poucas palavras, o argumento da Ep\u00edstola aos G\u00e1latas \u00e9 que a lei n\u00e3o salva; ela apenas nos conduz a Cristo para que sejamos de fato justificados. Quando vamos a Cristo, a lei n\u00e3o mais nos \u00e9 um tutor (ou disciplinador), ou seja, ela n\u00e3o mais desempenha sobre n\u00f3s sua fun\u00e7\u00e3o condenat\u00f3ria. Deixamos de estar sob a condena\u00e7\u00e3o da lei. Nesse sentido, Paulo afirma que os Dez Mandamentos foram abolidos na cruz. Mas a mesma lei \u00e9 escrita em nosso cora\u00e7\u00e3o pelo Esp\u00edrito Santo. Passamos a cumprir a lei e a ter uma vida de obedi\u00eancia \u00e0 vontade de Deus.<\/p>\n
<\/p>\n
Refer\u00eancias:<\/strong><\/p>\n[1] Salvo outra indica\u00e7\u00e3o, os textos b\u00edblicos s\u00e3o extra\u00eddos da Nova Vers\u00e3o Internacional.<\/p>\n
[2] Veja, por exemplo, Frank Thielman, <\/i>\u201cLei\u201d, em: Dicion\u00e1rio de Paulo e suas cartas<\/i>, ed. Gerald F. Hawthorne, Ralph P. Martin e Daniel G. Reid (S\u00e3o Paulo: Vida Nova \/ Paulus \/ Loyola, 2008), p. 779-796.<\/p>\n
[3] Ellen G. White, Mensagens escolhidas<\/i>, v. 1, p. 233.<\/p>\n
[4] Ibid., p. 234 (grifo nosso).<\/p>\n
[5] Wilson Paroschi, \u201cLi\u00e7\u00f5es de G\u00e1latas\u201d, Revista Adventista<\/i>, maio de 2012, p. 18.<\/p>\n
[6] Richard N. Longenecker, Galatians<\/i>, Word Biblical Commentary, v. 41 (Nashville, TN: Thomas Nelson, 1990), p. 137.<\/p>\n
[7] Ellen G. White, Mensagens escolhidas<\/i>, v. 1, p. 236-237 (grifo nosso).<\/p>\n
[8] Ibid., p. 233-234 (grifo nosso).<\/p>\n
[9] \u00c1ngel Manuel Rodr\u00edguez, \u201cThe Adventist Understanding of the Law and the Sabbath\u201d, em: Lutherans and Adventists in Conversation: Report and Papers Presented 1994-1998<\/i><\/i> (General Conference of Seventh-day Adventists; The Lutheran World Federation, 2000), p. 112 (grifo nosso).<\/p>\n
[10] Idem, \u201cChrist and the Law\u201d, Ministry<\/i>, julho-agosto de 1995, p. 55 (grifo nosso).<\/p>\n
<\/p>\n
Bibliografia recomendada<\/strong><\/p>\nAndrews Study Bible.<\/i> Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2010.<\/p>\n
CARDOSO, Matheus. O evangelho em G\u00e1latas \u2013 Coment\u00e1rios da Li\u00e7\u00e3o da Escola Sabatina. <\/i>Publica\u00e7\u00e3o on-line<\/i>: www.cpb.com.br (outubro-dezembro de 2011; atualmente indispon\u00edvel).<\/p>\n
\u201cCristo, o \u00fanico caminho.\u201d Li\u00e7\u00e3o da Escola Sabatina<\/i>,<\/i> 2\u00ba trimestre de 1990.<\/p>\n
DIOP, Ganoune. \u201cWhich Law is the Tutor That Lead Us to Christ?\u201d Em: Interpreting Scripture: Bible Questions and Answers<\/i>.<\/i> Ed. Gerhard Pfandl. Biblical Research Institute Studies, v. 2. Silver Spring, MD: Biblical Research Institute, 2010.<\/p>\n
PAROSCHI, Wilson. \u201cPaulo e a lei.\u201d Notas de sala de aula. Centro Universit\u00e1rio Adventista de S\u00e3o Paulo, 2009.<\/p>\n
__________. \u201cLi\u00e7\u00f5es de G\u00e1latas.\u201d Revista Adventista<\/i>, maio de 2012, p. 18-20.<\/p>\n
RODR\u00cdGUEZ, \u00c1ngel Manuel. \u201cChrist and the Law.\u201d Ministry<\/i>, julho-agosto de 1995, p. 54-57.<\/p>\n
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Veja, neste site<\/a>, uma vers\u00e3o dispon\u00edvel para ser impressa.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"O ap\u00f3stolo Pedro j\u00e1 dizia que as cartas de Paulo \u201ccont\u00eam algumas coisas dif\u00edceis de entender\u201d (2Pe 3:16).[1] Ele poderia ter acrescentado que a Ep\u00edstola de Paulo aos G\u00e1latas cont\u00e9m muitas coisas dif\u00edceis de entender. Confira uma pequena amostra de declara\u00e7\u00f5es intrigantes dessa carta: J\u00e1 os que se apoiam na …<\/p>\n","protected":false},"author":4,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[2,7],"tags":[],"yoast_head":"\n
G\u00e1latas sem mist\u00e9rio - Miss\u00e3o P\u00f3s-Moderna<\/title>\n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n\t \n\t \n\t \n