<\/a><\/p>\nNeste artigo de capa para a revista\u00a0Christianity Today<\/i>, William Lane Craig descreve o renascimento, entre os fil\u00f3sofos contempor\u00e2neos, dos argumentos a favor da exist\u00eancia de Deus. Craig \u00e9 um dos mais renomados especialistas em apolog\u00e9tica, que \u00e9 a defesa racional da f\u00e9 crist\u00e3. Ele possui doutorado (Ph.D.)\u00a0em filosofia pela Universidade de Birmingham (Inglaterra) e em teologia pela Universidade de Munique (Alemanha). A partir dos pr\u00f3ximos dias, vou postar v\u00eddeos e artigos de Craig.<\/p>\n
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Pode-se pensar, devido \u00e0 atual enchente de best-sellers ate\u00edstas, que a cren\u00e7a em Deus se tornou intelectualmente indefens\u00e1vel para as pessoas pensantes, atualmente. Mas uma olhada nos livros de Richard Dawkins, Sam Harris e Christopher Hitchens, dentre outros, revela rapidamente que o chamado Novo Ate\u00edsmo carece de m\u00fasculos intelectuais. Ele \u00e9 complacentemente ignorante acerca da revolu\u00e7\u00e3o que tem acontecido na filosofia anglo- americana. Ele reflete o cientificismo de uma gera\u00e7\u00e3o passada, ao inv\u00e9s do cen\u00e1rio intelectual contempor\u00e2neo. <\/p>\n
O alto ponto cultural daquela gera\u00e7\u00e3o chegou em 8 de abril de 1966, quando a revista\u00a0Time<\/i>\u00a0publicou uma reportagem principal cuja capa era completamente preta, exceto pelas tr\u00eas palavras coloridas em letras vermelhas brilhantes:\u00a0\u201cDeus est\u00e1 morto?\u201d. A reportagem descrevia o movimento da \u201cmorte de Deus\u201d, ent\u00e3o corrente na teologia americana.<\/p>\n
Mas, parafraseando Mark Twain, as not\u00edcias sobre o falecimento de Deus foram prematuras. Pois, ao mesmo tempo em que te\u00f3logos escreviam o obitu\u00e1rio de Deus, uma nova gera\u00e7\u00e3o de jovens fil\u00f3sofos estavam descobrindo sua vitalidade.<\/p>\n
Nas d\u00e9cadas de 1940 e 1950, muitos fil\u00f3sofos acreditavam que falar sobre Deus, visto que n\u00e3o se pode verific\u00e1-lo pelos cinco sentidos, \u00e9 sem sentido \u2014 um verdadeiro disparate. Este verificacionismo finalmente desmoronou, em parte porque os fil\u00f3sofos perceberam que o verificacionismo em si n\u00e3o podia ser verificado! O colapso do verificacionismo foi o evento filos\u00f3fico mais importante do s\u00e9culo 20. Sua queda significava que os fil\u00f3sofos estavam livres mais uma vez para cuidar de problemas tradicionais da filosofia que o verificacionismo havia suprimido. Junto com o ressurgimento do interesse nas quest\u00f5es filos\u00f3ficas tradicionais, apareceu algo completamente inesperado: o renascimento da filosofia crist\u00e3.<\/p>\n
O ponto de virada provavelmente surgiu em 1967, com a publica\u00e7\u00e3o de\u00a0God and Other Minds: A Study of the Rational Justification of Belief in God<\/i>\u00a0[Deus e outras mentes: um estudo sobre a justifica\u00e7\u00e3o racional da cren\u00e7a em Deus], escrito por Alvin Plantinga. Nos passos de Plantinga, seguiu-se multid\u00e3o de fil\u00f3sofos crist\u00e3os, escrevendo em peri\u00f3dicos acad\u00eamicos, participando de confer\u00eancias profissionais e publicando nas melhores editoras acad\u00eamicas. A cara da filosofia anglo-americana tem sido transformada, como resultado. O ate\u00edsmo, embora talvez ainda seja o ponto de vista dominante na academia americana, \u00e9 uma filosofia em retirada.<\/p>\n
Em artigo recente, o fil\u00f3sofo Quentin Smith, da Universidade de Western Michigan, lamenta o que ele chama de \u201cdesseculariza\u00e7\u00e3o da academia que evoluiu na filosofia desde os fins da d\u00e9cada de 1960\u201d. Ele reclama sobre a passividade dos naturalistas em face da onda dos \u201cte\u00edstas inteligentes e talentosos que est\u00e3o entrando na academia atualmente\u201d. Smith conclui: \u201cDeus n\u00e3o est\u00e1 ‘morto’ na academia; ele retornou \u00e0 vida no final da d\u00e9cada de 1960 e agora est\u00e1 vivo e passa bem em sua \u00faltima fortaleza acad\u00eamica, os departamentos de filosofia\u201d.<\/p>\n
O renascimento da filosofia crist\u00e3 tem sido acompanhado por um ressurgimento do interesse na teologia natural, o ramo da teologia que procura provar a exist\u00eancia de Deus sem recorrer \u00e0 revela\u00e7\u00e3o divina. O objetivo da teologia natural \u00e9 justificar uma cosmovis\u00e3o te\u00edsta ampla, uma que seja comum a crist\u00e3os, judeus, mu\u00e7ulmanos e de\u00edstas. Enquanto poucos os chamariam de provas irresist\u00edveis, todos os tradicionais argumentos para a exist\u00eancia de Deus, sem mencionar alguns novos argumentos criativos, encontram articulados defensores atualmente.<\/p>\n
\nOs argumentos<\/strong><\/p>\nEm primeiro lugar, vamos fazer um r\u00e1pido passeio por alguns dos argumentos atuais da teologia natural. Vamos conhec\u00ea-los em suas formas condensadas. Isto tem a vantagem de tornar a l\u00f3gica dos argumentos bem clara. As estruturas dos argumentos poder\u00e3o, ent\u00e3o, ser desenvolvidas mediante discuss\u00e3o mais completa. Uma segunda quest\u00e3o crucial \u2014 sobre qual a utilidade de um argumento racional em nossa era supostamente p\u00f3s-moderna \u2014 ser\u00e1 analisada na pr\u00f3xima se\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
O argumento cosmol\u00f3gico<\/strong>. Vers\u00f5es deste argumento s\u00e3o defendidas por Alexander Pruss, Timothy O’Connor, Stephen Davis, Robert Koons e Richard Swinburne, entre outros. Uma formula\u00e7\u00e3o simples do argumento \u00e9:<\/p>\n\n
1. Tudo o que existe tem uma explica\u00e7\u00e3o para sua exist\u00eancia (seja na necessidade de sua pr\u00f3pria natureza ou em uma causa externa). \n2. Se o universo tem uma explica\u00e7\u00e3o para a sua exist\u00eancia, esta explica\u00e7\u00e3o \u00e9 Deus. \n3. O universo existe. \n4. Logo, a explica\u00e7\u00e3o para a exist\u00eancia do universo \u00e9 Deus.<\/p>\n<\/div>\n
Este argumento \u00e9 logicamente v\u00e1lido. Ent\u00e3o, a \u00fanica quest\u00e3o \u00e9 a veracidade das premissas. A premissa (3) \u00e9 ineg\u00e1vel para qualquer um que busque sinceramente a verdade; logo, a quest\u00e3o est\u00e1 nas premissas (1) e (2).<\/p>\n
A premissa (1) parece bastante plaus\u00edvel. Imagine que voc\u00ea esteja andando pela floresta e encontre uma bola transl\u00facida parada no ch\u00e3o. Voc\u00ea iria achar bastante bizarra a afirma\u00e7\u00e3o de que a bola apenas existe sem nenhuma explica\u00e7\u00e3o. E aumentar o tamanho da bola, at\u00e9 que ela se torne do tamanho do cosmos, n\u00e3o iria servir para eliminar a necessidade de uma explica\u00e7\u00e3o para sua exist\u00eancia.<\/p>\n
A premissa (2) pode parecer controversa, em princ\u00edpio, mas ela \u00e9 de fato id\u00eantica \u00e0 declara\u00e7\u00e3o ate\u00edsta usual de que, se Deus n\u00e3o existe, ent\u00e3o o universo n\u00e3o tem uma explica\u00e7\u00e3o para sua pr\u00f3pria exist\u00eancia. Al\u00e9m disso, (2) \u00e9 bastante plaus\u00edvel por seu pr\u00f3prio m\u00e9rito. Pois uma causa externa para o universo precisa estar al\u00e9m do espa\u00e7o e do tempo e, portanto, n\u00e3o pode ser f\u00edsica ou material. Ora, h\u00e1 apenas duas classes de objetos que se ad\u00e9quam a esta descri\u00e7\u00e3o: objetos abstratos, como n\u00fameros, ou uma mente inteligente. Mas objetos abstratos s\u00e3o causalmente impotentes. O n\u00famero 7, por exemplo, n\u00e3o pode causar nada. Portanto, conclui-se que a explica\u00e7\u00e3o para o universo \u00e9 uma mente externa, transcendente e pessoal que criou o universo \u2014 o que a maioria das pessoas tradicionalmente tem chamado de \u201cDeus\u201d.<\/p>\n
O argumento cosmol\u00f3gico\u00a0kalam<\/i><\/strong>. Esta vers\u00e3o do argumento tem uma rica heran\u00e7a isl\u00e2mica. Stuart Hackett, David Oderberg, Mark Nowack e eu temos defendido o argumento\u00a0kalam<\/i>. Sua formula\u00e7\u00e3o \u00e9 simples:<\/p>\n\n
1. Tudo que come\u00e7a a existir tem uma causa. \n2. O universo come\u00e7ou a existir. \n3. Logo, o universo tem uma causa.<\/p>\n<\/div>\n
A premissa (1) certamente parece mais plaus\u00edvel que sua nega\u00e7\u00e3o. A id\u00e9ia de que as coisas possam surgir sem uma causa \u00e9 pior do que m\u00e1gica. No entanto, \u00e9 extraordin\u00e1rio como tantos n\u00e3o te\u00edstas, devido \u00e0 for\u00e7a da evid\u00eancia para a premissa (2), t\u00eam negado (1), ao inv\u00e9s de concordar com a conclus\u00e3o do argumento.<\/p>\n
Os ateus t\u00eam tradicionalmente negado (2) em favor de um universo eterno. Mas existem boas raz\u00f5es, filos\u00f3ficas e cient\u00edficas, para duvidar de que o universo n\u00e3o teve um in\u00edcio. Filosoficamente, a id\u00e9ia de um passado infinito parece absurda. Se o universo nunca teve um in\u00edcio, ent\u00e3o o n\u00famero de eventos passados na hist\u00f3ria do universo \u00e9 infinito. Esta n\u00e3o apenas \u00e9 uma ideia paradoxal, mas tamb\u00e9m levanta o problema: como poderia o evento presente ter alguma vez chegado se um n\u00famero infinito de eventos anteriores deve ter transcorrido antes?<\/p>\n
Al\u00e9m disso, uma s\u00e9rie extraordin\u00e1ria de descobertas na astronomia e na astrof\u00edsica durante o \u00faltimo s\u00e9culo tem soprado nova vida no argumento cosmol\u00f3gico\u00a0kalam<\/i>. Agora, possu\u00edmos evid\u00eancias razoavelmente fortes de que o universo n\u00e3o \u00e9 eterno no passado, mas teve in\u00edcio absoluto h\u00e1 13,7 bilh\u00f5es de anos em um evento catacl\u00edsmico conhecido como o Big Bang [Grande Explos\u00e3o].<\/p>\n
O Big Bang \u00e9 t\u00e3o extraordin\u00e1rio porque ele representa a origem do universo a partir de literalmente nada. Pois toda a mat\u00e9ria e energia, e at\u00e9 mesmo os pr\u00f3prios espa\u00e7o f\u00edsico e tempo, vieram a existir no Big Bang. Enquanto alguns cosmologistas t\u00eam tentado criar teorias alternativas com o objetivo de evitar esse in\u00edcio absoluto, nenhuma dessas teorias teve sucesso na comunidade cient\u00edfica. De fato, em 2003, os cosmologistas Arvind Borde, Alan Guth e Alexander Vilenkin foram capazes de provar que qualquer universo que est\u00e1, notavelmente, em um estado de expans\u00e3o c\u00f3smica, n\u00e3o pode ser eterno no passado, mas deve ter possu\u00eddo um in\u00edcio absoluto. De acordo com Vilenkin, \u201cos cosmologistas n\u00e3o podem mais se esconder atr\u00e1s da possibilidade de um universo eterno no passado. N\u00e3o h\u00e1 escapat\u00f3ria; eles devem encarar o problema de um in\u00edcio c\u00f3smico\u201d. Segue-se, ent\u00e3o, que deve haver uma causa transcendente que trouxe o universo \u00e0 exist\u00eancia, uma causa que, como vimos, \u00e9 plausivelmente atemporal, n\u00e3o espacial, imaterial e pessoal.<\/p>\n
O argumento teleol\u00f3gico<\/strong>. O antigo argumento do design<\/i> [projeto] hoje continua forte como nunca, defendido em v\u00e1rias formas por Robin Collins, John Leslie, Paul Davies, William Dembski, Michael Denton e outros. Os defensores do movimento do Projeto Inteligente [Intelligent Design<\/i>] continuam a tradi\u00e7\u00e3o de encontrar exemplos de projeto em sistemas biol\u00f3gicos. Mas o destaque na discuss\u00e3o est\u00e1 no rec\u00e9m descoberto extraordin\u00e1rio ajuste preciso [fine-tuning<\/i>] do cosmos para a vida. Este ajuste preciso \u00e9 de dois tipos. Primeiramente, quando as leis da natureza s\u00e3o expressas como equa\u00e7\u00f5es matem\u00e1ticas, elas cont\u00eam certas constantes, como a constante gravitacional. Os valores matem\u00e1ticos dessas constantes n\u00e3o s\u00e3o determinados pelas leis da natureza. Segundo, existem certas quantidades arbitr\u00e1rias que s\u00e3o simplesmente partes das condi\u00e7\u00f5es iniciais do universo \u2014 por exemplo, a quantidade de entropia no universo.<\/p>\n Estas constantes e quantidades incidem em um conjunto extraordinariamente limitado de valores que permitem a vida. Se tais constantes e quantidades fossem alteradas por menos que a espessura de um fio de cabelo, o equil\u00edbrio que permite a vida seria destru\u00eddo, e a vida n\u00e3o existiria.<\/p>\n
Destarte, pode-se argumentar:<\/p>\n
\n
1. O ajuste preciso do universo \u00e9 resultado da necessidade f\u00edsica, ou do acaso ou do design. \n2. Ele n\u00e3o \u00e9 resultado da necessidade f\u00edsica e nem do acaso. \n3. Logo, ele \u00e9 resultado do design.<\/p>\n<\/div>\n
A premissa (1) simplesmente apresenta as op\u00e7\u00f5es existentes para explicar o ajuste preciso. A premissa principal, portanto, \u00e9 (2). A primeira alternativa, necessidade f\u00edsica, afirma que as constantes e as quantidades\u00a0devem<\/i>\u00a0ter o valor que possuem. Esta alternativa \u00e9 pouco recomend\u00e1vel. As leis da natureza s\u00e3o consistentes com uma ampla gama de valores para as constantes e quantidades. Por exemplo, atualmente, a candidata com melhor potencial para se tornar a teoria unificada da f\u00edsica, a teoria das supercordas ou \u201cTeoria-M\u201d, permite um \u201ccen\u00e1rio c\u00f3smico\u201d de cerca de 10500\u00a0poss\u00edveis diferentes universos governados pelas leis da natureza, e apenas uma propor\u00e7\u00e3o infinitesimal deles pode sustentar a vida.<\/p>\n
Com rela\u00e7\u00e3o ao acaso, os te\u00f3ricos contempor\u00e2neos reconhecem cada vez mais que as probabilidades contra a sintonia fina s\u00e3o simplesmente insuper\u00e1veis, a menos que se esteja preparado para abra\u00e7ar a hip\u00f3tese especulativa de que o nosso universo \u00e9 apenas um membro de um agrupamento infinito e aleatoriamente ordenado de universos (i.e., o multiverso). Nesse agrupamento de mundos, cada mundo fisicamente poss\u00edvel \u00e9 concretizado, e obviamente n\u00f3s podemos observar apenas o mundo onde as constantes e quantidades s\u00e3o consistentes com a nossa exist\u00eancia. \u00c9 aqui que o debate esquenta, atualmente. F\u00edsicos como Roger Penrose, da Universidade de Oxford, lan\u00e7am poderosos argumentos contra qualquer apelo a um multiverso como op\u00e7\u00e3o para se explicar o ajuste preciso.<\/p>\n
O argumento moral<\/strong>. Um n\u00famero de eticistas como Robert Adams, William Alston, Mark Linville, Paul Copan, John Hare, Stephen Evans e outros tem defendido teorias de \u00e9tica do \u201ccomando divino\u201d, que sustentam diversos argumentos morais para a exist\u00eancia de Deus. Por exemplo, um desses argumentos \u00e9:<\/p>\n\n
1. Se Deus n\u00e3o existe, valores morais e obriga\u00e7\u00f5es objetivos n\u00e3o existem. \n2. Valores morais e obriga\u00e7\u00f5es objetivos existem. \n3. Logo, Deus existe.<\/p>\n<\/div>\n
Valores morais e obriga\u00e7\u00f5es objetivos possuem o significado de valores e obriga\u00e7\u00f5es que s\u00e3o v\u00e1lidos e obrigat\u00f3rios, independentemente da opini\u00e3o humana. Um bom n\u00famero de ateus e te\u00edstas igualmente concordam com a premissa (1). Dada uma cosmovis\u00e3o naturalista, seres humanos s\u00e3o apenas animais, e as atividades que denominamos assassinato, tortura e estupro s\u00e3o naturais e moralmente neutras, amorais, no reino animal. Al\u00e9m disso, se n\u00e3o h\u00e1 ningu\u00e9m para ordenar ou proibir certas a\u00e7\u00f5es, como podemos ter obriga\u00e7\u00f5es ou proibi\u00e7\u00f5es morais?<\/p>\n
A premissa (2) parece ser mais contest\u00e1vel, mas provavelmente ser\u00e1 uma surpresa para a maioria dos leigos saber que (2) \u00e9 amplamente aceita entre os fil\u00f3sofos. Pois qualquer argumento contra uma moral objetiva tende a ser baseado em premissas que s\u00e3o menos evidentes do que a realidade dos valores morais em si, como apreendidos na nossa experi\u00eancia moral. A maioria dos fil\u00f3sofos, portanto, reconhece distin\u00e7\u00f5es morais objetivas.<\/p>\n
Os n\u00e3o te\u00edstas ir\u00e3o tipicamente se opor ao argumento moral com um dilema: algo \u00e9 bom porque Deus o deseja, ou Deus deseja algo porque esse algo \u00e9 bom? A primeira alternativa torna o bem e o mal arbitr\u00e1rios, enquanto a segunda torna o bem independente de Deus. Felizmente, o dilema \u00e9 falso. Os te\u00edstas t\u00eam tradicionalmente abra\u00e7ado uma terceira alternativa: Deus deseja algo porque\u00a0Ele<\/em>\u00a0\u00e9 bom. Isto \u00e9, o que Plat\u00e3o chamou de \u201co Bem\u201d \u00e9 a natureza moral de Deus em si. Deus \u00e9, por natureza, amoroso, bom, imparcial e assim por diante. Ele \u00e9 o paradigma da bondade. Portanto, o bem n\u00e3o \u00e9 independente de Deus.<\/p>\nAl\u00e9m disso, os mandamentos de Deus s\u00e3o uma express\u00e3o necess\u00e1ria de sua natureza. Suas ordens para n\u00f3s, portanto, n\u00e3o s\u00e3o arbitr\u00e1rios, mas s\u00e3o reflex\u00f5es necess\u00e1rias de seu car\u00e1ter. Isto nos d\u00e1 uma funda\u00e7\u00e3o adequada para a afirma\u00e7\u00e3o de valores morais e obriga\u00e7\u00f5es objetivos.<\/p>\n
O argumento ontol\u00f3gico<\/strong>. O famoso argumento de Anselmo foi reformulado e defendido por Alvin Plantinga, Robert Maydole, Brian Leftow e outros. Deus, observa Anselmo, \u00e9 por defini\u00e7\u00e3o o maior ser conceb\u00edvel. Se voc\u00ea pudesse conceber algo maior do que Deus, ent\u00e3o\u00a0isso<\/em>\u00a0seria Deus. Portanto, Deus \u00e9 o maior ser conceb\u00edvel, um ser maximamente grande. Ent\u00e3o, como seria tal ser? Ele seria todo-poderoso, onisciente e todo-bondoso, e iria existir em todos os mundos logicamente poss\u00edveis. Ent\u00e3o, pode-se argumentar:<\/p>\n\n
1. \u00c9 poss\u00edvel que um ser maximamente grande (Deus) exista. \n2. Se \u00e9 poss\u00edvel que um ser maximamente grande exista, ent\u00e3o um ser maximamente grande existe em algum mundo poss\u00edvel. \n3. Se um ser maximamente grande existe em algum mundo poss\u00edvel, ent\u00e3o ele existe em todos os mundos poss\u00edveis. \n4. Se um ser maximamente grande existe em todos os mundos poss\u00edveis, ent\u00e3o ele existe no mundo real. \n5. Logo, um ser maximamente grande existe no mundo real. \n6. Logo, um ser maximamente grande existe. \n7. Logo, Deus existe.<\/p>\n<\/div>\n
Pode ser uma surpresa saber que os passos 2-7 deste argumento s\u00e3o relativamente incontroversos. A maioria dos fil\u00f3sofos concordaria que se a exist\u00eancia de Deus \u00e9 at\u00e9 mesmo poss\u00edvel, ent\u00e3o ele deve existir. Ent\u00e3o a \u00fanica quest\u00e3o \u00e9: a exist\u00eancia de Deus \u00e9 poss\u00edvel? O ateu deve sustentar a impossibilidade da exist\u00eancia de Deus. Ele deve dizer que o conceito de Deus \u00e9 incoerente, como o conceito de um solteiro casado ou um quadrado redondo. Mas o problema \u00e9 que o conceito de Deus n\u00e3o parece ser incoerente desta maneira. A id\u00e9ia de um ser que \u00e9 todo-poderoso, onisciente e todo-bondoso em qualquer mundo poss\u00edvel parece perfeitamente coerente. E na medida em que a exist\u00eancia de Deus \u00e9 at\u00e9 mesmo poss\u00edvel, conclui-se que Deus deve existir.<\/p>\n
\nPor que se importar?<\/strong><\/p>\n\u00c9 claro que existem r\u00e9plicas e tr\u00e9plicas a todos estes argumentos, e ningu\u00e9m imagina que um consenso ser\u00e1 alcan\u00e7ado. De fato, ap\u00f3s um per\u00edodo de passividade, existem atualmente sinais de que o gigante adormecido do ate\u00edsmo foi despertado de seu sono dogm\u00e1tico e est\u00e1 de volta \u00e0 luta. J. Howard Sobel e Graham Oppy escreveram grossos livros acad\u00eamicos criticando os argumentos da teologia natural e a Editora da Universidade de Cambridge [Cambridge University Press] lan\u00e7ou seu\u00a0Companion to Atheism<\/em>\u00a0(Guia ao ate\u00edsmo), no ano passado. De qualquer forma, a pr\u00f3pria presen\u00e7a do debate na academia \u00e9 um sinal em si mesmo de qu\u00e3o saud\u00e1vel e vibrante \u00e9 a cosmovis\u00e3o te\u00edsta, atualmente.<\/p>\nApesar de tudo, alguns podem pensar que o ressurgimento da teologia natural em nossos tempos \u00e9 apenas muito trabalho perdido. N\u00e3o vivemos em uma cultura p\u00f3s-moderna na qual apelos a tais argumentos apolog\u00e9ticos n\u00e3o s\u00e3o mais eficazes? Argumentos racionais a favor da verdade do te\u00edsmo supostamente n\u00e3o devem mais funcionar. Alguns crist\u00e3os, portanto, advertem que dever\u00edamos apenas compartilhar nossas narrativas e convidar as pessoas a participarem dela.<\/p>\n
Este tipo de pensamento \u00e9 culpado de um desastroso diagn\u00f3stico equivocado da cultura contempor\u00e2nea. A ideia de que vivemos em uma cultura p\u00f3s-moderna \u00e9 um mito. De fato, uma cultura p\u00f3s-moderna \u00e9 uma impossibilidade; ela, absolutamente, n\u00e3o permitiria a vida. As pessoas n\u00e3o s\u00e3o relativistas quando se trata de assuntos como a ci\u00eancia, a engenharia e a tecnologia. Ao inv\u00e9s disso, elas s\u00e3o relativistas e pluralistas em mat\u00e9rias de\u00a0religi\u00e3o e \u00e9tica<\/em>. Mas, \u00e9 claro, isso n\u00e3o \u00e9 p\u00f3s-modernismo; isso \u00e9 modernismo! \u00c9 apenas o velho verificacionismo, que sustenta que tudo o que voc\u00ea n\u00e3o pode provar com seus cinco sentidos se trata de mat\u00e9ria de gosto pessoal. N\u00f3s vivemos em uma cultura que se mant\u00e9m profundamente modernista.<\/p>\nDe outra forma, como poder\u00edamos entender a popularidade do Novo Ate\u00edsmo? Dawkins e companhia s\u00e3o inerentemente modernistas e at\u00e9 mesmo cientificistas em suas abordagens. De acordo com a leitura p\u00f3s-modernista da cultura contempor\u00e2nea, seus livros deveriam cair como \u00e1gua na pedra. Ao inv\u00e9s disso, as pessoas devoram esses livros avidamente, convencidas de que a cren\u00e7a religiosa \u00e9 tolice.<\/p>\n
Visto sob esta luz, adaptar o evangelho para uma cultura p\u00f3s-modernista \u00e9 agir em prol do fracasso. Ao deixar de lado nossas melhores armas da l\u00f3gica e da evid\u00eancia, n\u00f3s garantimos o triunfo do modernismo sobre n\u00f3s. Se a igreja adotar esse plano de a\u00e7\u00e3o, as consequ\u00eancias para a pr\u00f3xima gera\u00e7\u00e3o ser\u00e3o catastr\u00f3ficas. O cristianismo ser\u00e1 reduzido a nada, sen\u00e3o outra voz na cacofonia de vozes em competi\u00e7\u00e3o, cada uma compartilhando sua pr\u00f3pria narrativa e nenhuma recomendando a si mesma como a verdade objetiva acerca da realidade. Enquanto isso, o naturalismo cient\u00edfico continuar\u00e1 a moldar nossa vis\u00e3o cultural de como o mundo realmente funciona.<\/p>\n
Uma teologia natural robusta pode muito bem ser necess\u00e1ria para o evangelho ser efetivamente ouvido na sociedade ocidental de hoje. Em geral, a cultura ocidental \u00e9 profundamente p\u00f3s-crist\u00e3. \u00c9 produto do Iluminismo, que introduziu na cultura europeia o fermento do secularismo que tem permeado a sociedade ocidental at\u00e9 hoje. Enquanto a maioria dos pensadores iluministas originais era de te\u00edstas, a maioria dos intelectuais ocidentais atualmente n\u00e3o considera mais o conhecimento teol\u00f3gico como poss\u00edvel. A pessoa que seguir a busca pela raz\u00e3o com firmeza, at\u00e9 o fim, ser\u00e1 ate\u00edsta ou, no melhor dos casos, agn\u00f3stica.<\/p>\n
Entender apropriadamente nossa cultura \u00e9 importante porque o evangelho nunca \u00e9 ouvido em isolamento. \u00c9 sempre ouvido dentro do pano de fundo do ambiente cultural contempor\u00e2neo. Uma pessoa que cresce em um ambiente cultural no qual o Cristianismo \u00e9 visto como uma op\u00e7\u00e3o intelectualmente vi\u00e1vel ir\u00e1 apresentar abertura ao evangelho. Mas tanto faz pedir para o secularista acreditar em fadas, duendes ou em Jesus Cristo!<\/p>\n
Crist\u00e3os que depreciam a teologia natural porque \u201cningu\u00e9m vem \u00e0 f\u00e9 atrav\u00e9s de argumentos intelectuais\u201d s\u00e3o, portanto, tragicamente m\u00edopes. Pois o valor da teologia natural vai muito al\u00e9m dos contatos evangel\u00edsticos imediatos de alguma pessoa. \u00c9 tarefa mais ampla da apolog\u00e9tica crist\u00e3, inclusive da teologia natural, ajudar a criar e manter um ambiente cultural em que o evangelho possa ser ouvido como uma op\u00e7\u00e3o intelectualmente vi\u00e1vel para o homem e a mulher pensantes. Desta forma, isto fornece a permiss\u00e3o intelectual para as pessoas crerem quando seus cora\u00e7\u00f5es forem tocados. \u00c0 medida que avan\u00e7amos no s\u00e9culo 21, eu antecipo que a teologia natural ser\u00e1 uma prepara\u00e7\u00e3o crescentemente vital e relevante para que as pessoas recebam o evangelho.<\/p>\n
Publicado originalmente no site<\/a> oficial de William Lane Craig em portugu\u00eas, onde podem ser encontrados diversos artigos e v\u00eddeos.<\/i><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"Neste artigo de capa para a revista\u00a0Christianity Today, William Lane Craig descreve o renascimento, entre os fil\u00f3sofos contempor\u00e2neos, dos argumentos a favor da exist\u00eancia de Deus. Craig \u00e9 um dos mais renomados especialistas em apolog\u00e9tica, que \u00e9 a defesa racional da f\u00e9 crist\u00e3. Ele possui doutorado (Ph.D.)\u00a0em filosofia pela Universidade …<\/p>\n","protected":false},"author":4,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":[],"categories":[7],"tags":[9,32],"yoast_head":"\n
O renascimento de Deus - Miss\u00e3o P\u00f3s-Moderna<\/title>\n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n\t \n\t \n\t \n