{"id":110,"date":"2013-03-17T00:00:00","date_gmt":"1970-01-01T00:00:00","guid":{"rendered":"http:\/\/rabis.co\/migramissaopos\/2013\/03\/criacionismo-ainda-viavel\/"},"modified":"2018-02-17T23:53:15","modified_gmt":"2018-02-18T01:53:15","slug":"criacionismo-ainda-viavel","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/missaoposmoderna.biblecast.com.br\/2013\/03\/criacionismo-ainda-viavel\/","title":{"rendered":"Criacionismo: ainda vi\u00e1vel?"},"content":{"rendered":"
Os pesquisadores Brian e Deborah Charlesworth assim iniciam sua obra introdut\u00f3ria sobre a evolu\u00e7\u00e3o:<\/p>\n O consenso<\/strong> <\/em>na comunidade cient\u00edfica \u00e9 de que […] todos os organismos existentes na atualidade s\u00e3o os descendentes de mol\u00e9culas autorreplicantes que se formaram por meios puramente qu\u00edmicos h\u00e1 mais de 3,5 bilh\u00f5es de anos. As formas sucessivas de vida foram produzidas pelo processo de \u201cdescend\u00eancia com modifica\u00e7\u00e3o\u201d, como o chamou Darwin, e est\u00e3o relacionadas umas \u00e0s outras por uma genealogia ramificada, a \u00e1rvore da vida. N\u00f3s, seres humanos, somos mais pr\u00f3ximos dos chimpanz\u00e9s e dos gorilas, com quem tivemos um ancestral em comum h\u00e1 6 ou 7 milh\u00f5es de anos. […] A origem de todos os vertebrados (mam\u00edferos, aves, r\u00e9pteis, anf\u00edbios, peixes) remonta a uma pequena criatura similar a um peixe que carecia de espinha dorsal, que existiu h\u00e1 mais de 500 milh\u00f5es de anos (Brian e Deborah Charlesworth, Evolu\u00e7\u00e3o<\/i><\/a> [Porto Alegre: L&PM, 2012], p. 9, grifo nosso).<\/p><\/blockquote>\n Diante desse consenso cient\u00edfico (ou praticamente isso), \u00e9 intelectualmente vi\u00e1vel continuar sustentando a posi\u00e7\u00e3o criacionista?<\/p>\n Antes de respondermos essa pergunta, \u00e9 preciso admitir que, em geral, a defesa do criacionismo mais atrapalha do que ajuda, mesmo do ponto de vista dos que adotam essa vis\u00e3o. O bi\u00f3logo e paleont\u00f3logo criacionista Leonard Brand, Ph.D. em biologia evolutiva pela Cornell University, explica:<\/p>\n Muito do material criacionista existente sup\u00f5e que a evolu\u00e7\u00e3o \u00e9 apenas uma teoria sem sentido que oferece \u00e0s pessoas uma forma de fugir da verdade sobre Deus. Esses criacionistas pensam que, se os evolucionistas simplesmente enxergassem as evid\u00eancias \u00f3bvias, perceberiam que a Cria\u00e7\u00e3o \u00e9 verdadeira. […]<\/p>\n Ainda que bem-intencionadas, algumas pessoas usam essa abordagem com os jovens crist\u00e3os, muitos dos quais frequentam universidades p\u00fablicas onde cientistas lhes apresentam um gigantesco conjunto de dados que destr\u00f3i suas cren\u00e7as criacionistas. Ent\u00e3o, esses jovens descobrem que a evolu\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 uma teoria est\u00fapida, mas pode ser apoiada por uma esmagadora variedade de evid\u00eancias. Nesse processo, muitos deles acabam perdendo a f\u00e9.<\/p>\n Seria muito melhor explicar aos jovens que os evolucionistas s\u00e3o pessoas inteligentes, que possuem ampla evid\u00eancia para sua compreens\u00e3o, mas que h\u00e1 outras maneiras (a nosso ver, melhores) de interpretar as evid\u00eancias. Embora tenhamos boas raz\u00f5es para nossa posi\u00e7\u00e3o, n\u00e3o devemos subestimar a habilidade dos evolucionistas em defender a deles (Leonard Brand e Cindy Tutsch, \u201cPresenting evolution and Creation<\/a>: How? [Part 1]\u201d, Ministry<\/i>, fevereiro de 2005, p. 21, 30).<\/p><\/blockquote>\n Desfazendo mitos sobre o criacionismo<\/strong><\/p>\n Nesse di\u00e1logo, precisamos ter o cuidado de n\u00e3o superenfatizar as diferen\u00e7as entre a evolu\u00e7\u00e3o e o criacionismo. O Dr. Leonard Brand esclarece:<\/p>\n A palavra \u201cevolu\u00e7\u00e3o\u201d significa mudan\u00e7a. H\u00e1 suficiente evid\u00eancia de que esse processo evolutivo (ou alguma varia\u00e7\u00e3o dele) realmente acontece e produz novas variedades e novas esp\u00e9cies. […] Em\u00a0quase todos os aspectos<\/em><\/strong>, intervencionistas [ou criacionistas] e evolucionistas naturalistas concordam sobre a maneira pela qual\u00a0esses processos acontecem. […]<\/p>\n Embora os intervencionistas sejam com frequ\u00eancia representados como antievolucionistas, o fato \u00e9 que eles\u00a0aceitam<\/em><\/strong>\u00a0[a exist\u00eancia de] um processo de mudan\u00e7a morfol\u00f3gica [ou seja, evolu\u00e7\u00e3o]. […]<\/p>\n Dois dos mais respeitados livros-texto sobre evolu\u00e7\u00e3o \u2013 \u00a0Mark Ridley,\u00a0Evolu\u00e7\u00e3o<\/i><\/a> (Porto Alegre:\u00a0Artmed, 2006) e Douglas J. Futuyma,\u00a0Biologia evolutiva<\/i><\/a>\u00a0(Ribeir\u00e3o Preto:\u00a0Funpec Editora, 2009) \u2013 \u00a0apresentam ampla evid\u00eancia em favor da realidade da microevolu\u00e7\u00e3o e da especia\u00e7\u00e3o. Discutem tamb\u00e9m padr\u00f5es no registro f\u00f3ssil, adapta\u00e7\u00f5es biol\u00f3gicas e outros conceitos usados como evid\u00eancias da megaevolu\u00e7\u00e3o. Mas esses conceitos n\u00e3o descartam<\/strong><\/em> o intervencionismo. […]<\/p>\n \u00c9 interessante ponderar sobre isso quando participo de encontros de organiza\u00e7\u00f5es cient\u00edficas como a American Society of Mammalogists (Sociedade Americana de Mastozoologia) ou a Geological Society of America (Sociedade Geol\u00f3gica Americana). A maioria dos cientistas presentes nesses encontros rejeitaria o intervencionismo, e a maioria provavelmente presume que intervencionistas n\u00e3o podem ser cientistas eficientes. Contudo, provavelmente\u00a080 ou 90 por cento<\/em><\/strong>\u00a0da pesquisa relatada poderiam ser desenvolvidos por qualquer intervencionista com forma\u00e7\u00e3o na \u00e1rea.<\/p>\n Mesmo na \u00e1rea da evolu\u00e7\u00e3o,\u00a0a maior parte<\/em><\/strong>\u00a0do que \u00e9 estudado se limita a microevolu\u00e7\u00e3o, especia\u00e7\u00e3o e os aspectos da macroevolu\u00e7\u00e3o\u00a0aceitos tamb\u00e9m por intervencionistas. Isso \u00e9 verdade tamb\u00e9m em rela\u00e7\u00e3o \u00e0\u00a0maioria dos aspectos<\/em><\/strong>\u00a0das ci\u00eancias da terra, especialmente as \u00e1reas relacionadas \u00e0 pesquisa experimental ou \u00e0 compara\u00e7\u00e3o com os processos atuais. Nesses temas cient\u00edficos, h\u00e1 coletas de dados relevantes e testes de hip\u00f3teses eficazes, independentemente da filosofia pessoal \u00a0do pesquisador (Leonard Brand,\u00a0Faith, Reason, and Earth History<\/a>: A Paradigm of Earth and Biological Origins by Intelligent Design<\/i>,\u00a02\u00aa edi\u00e7\u00e3o [Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2009], p. 175-176, 190, 281, 299, grifo nosso).<\/p><\/blockquote>\n Um rumo para o criacionismo<\/strong><\/p>\n Voltemos \u00e0 pergunta inicial: \u00e9 ainda academicamente\u00a0vi\u00e1vel, no s\u00e9culo 21, sustentar o criacionismo? \u00c9 poss\u00edvel aceitar o relato b\u00edblico da Cria\u00e7\u00e3o sem comprometer a integridade intelectual?<\/p>\n Creio que sim.\u00a0E, na minha opini\u00e3o, a melhor defesa dessa resposta \u00e9 apresentada por Fernando Canale no livro\u00a0Creation, Evolution and Theology<\/a>: An Introduction to the Scientific and Theological Methods<\/i> (Cria\u00e7\u00e3o, evolu\u00e7\u00e3o e teologia: uma introdu\u00e7\u00e3o aos m\u00e9todos cient\u00edfico e teol\u00f3gico) (Libertador San Mart\u00edn: Editorial Universidad Adventista del Plata, 2009).\u00a0O Dr. Canale \u00e9\u00a0professor de teologia e filosofia na Andrews University (EUA) e um especialista em filosofia contempor\u00e2nea. Em breve, esse livro ser\u00e1 publicado em portugu\u00eas. At\u00e9 l\u00e1, voc\u00ea pode ler a vers\u00e3o pr\u00e9via desse estudo, publicada em tr\u00eas partes no peri\u00f3dico Andrews University Seminary Studies<\/i>\u00a0(1\u00aa<\/a>, 2\u00aa<\/a> e 3\u00aa<\/a> partes).<\/p>\n Em poucas palavras, Canale argumenta que a solu\u00e7\u00e3o para a sobreviv\u00eancia intelectual do criacionismo \u00e9 a filosofia contempor\u00e2nea (p\u00f3s-moderna)<\/i><\/strong>.<\/p>\n Mas o p\u00f3s-modernismo n\u00e3o \u00e9 ruim?<\/p>\n A compreens\u00e3o p\u00f3s-moderna sobre a verdade com frequ\u00eancia \u00e9 mal-interpretada.\u00a0Em outro artigo deste blog,\u00a0\u201cP\u00f3s-modernidade: inimiga ou amiga<\/a>?\u201d, Ed Ren\u00e9 Kivitz esclarece que a p\u00f3s-modernidade n\u00e3o\u00a0\u201cnega a exist\u00eancia da verdade; ela s\u00f3 diz que a raz\u00e3o humana<\/strong> n\u00e3o d\u00e1 conta de conhecer a verdade\u201d.<\/p>\n Simplificando bastante a argumenta\u00e7\u00e3o do Dr. Canale, o que ele diz \u00e9 o seguinte:<\/p>\n A compreens\u00e3o modernista (iluminista) sobre a raz\u00e3o humana sup\u00f5e a exist\u00eancia de uma \u201cverdade universal absoluta\u201d independente da contribui\u00e7\u00e3o do sujeito (observador). Em outras palavras, a raz\u00e3o humana \u00e9 capaz de estabelecer, de maneira segura, o que \u00e9 verdade e o que \u00e9 erro. Mas o p\u00f3s-modernismo derrubou o mito da raz\u00e3o como o \u00e1rbitro absoluto do que \u00e9 a verdade. A filosofia p\u00f3s-moderna pode ser resumida pela frase: \u201cConhecer \u00e9 interpretar<\/em><\/strong>\u201d (Richard\u00a0Rorty). Ao contr\u00e1rio do que popularmente se imagina, isso n\u00e3o significa negar a exist\u00eancia de uma verdade absoluta, mas negar a afirma\u00e7\u00e3o de que algu\u00e9m \u00e9 capaz de alcan\u00e7ar um conhecimento absoluto ou preciso.<\/p>\n O fil\u00f3sofo Paul Feyerabend argumenta que, \u201cde acordo com os nossos resultados atuais, dificilmente alguma teoria \u00e9 consistente com os fatos<\/strong><\/em>. A exig\u00eancia por sustentar somente as teorias que s\u00e3o consistentes com os fatos dispon\u00edveis e aceitos nos deixaria novamente\u00a0sem nenhuma teoria. Repito: sem nenhuma teoria<\/strong><\/em>, porque n\u00e3o existe uma \u00fanica teoria que n\u00e3o possua dificuldades\u201d.<\/p>\n<\/a><\/p>\n
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