William Lane Craig Archives - Missão Pós-Moderna https://missaoposmoderna.biblecast.com.br/tag/william-lane-craig/ cristianismo no mundo contemporâneo Sun, 18 Feb 2018 01:53:10 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.0.1 https://missaoposmoderna.biblecast.com.br/wp-content/uploads/2018/02/missaopm-alpha-ico-150x150.png William Lane Craig Archives - Missão Pós-Moderna https://missaoposmoderna.biblecast.com.br/tag/william-lane-craig/ 32 32 Jesus ressuscitou? https://missaoposmoderna.biblecast.com.br/2014/07/jesus-ressuscitou/ Sat, 12 Jul 2014 15:53:26 +0000 http://rabis.co/migramissaopos/?p=1866 Falei recentemente numa grande universidade canadense sobre a existência de Deus. Depois de minha palestra, uma estudante levemente irada escreveu no seu cartão de comentários: “Estava do seu lado até você chegar naquele assunto sobre Jesus. Deus não é o Deus cristão!”. Hoje, essa atitude é típica demais. A maioria …

The post Jesus ressuscitou? appeared first on Missão Pós-Moderna.

]]>

Falei recentemente numa grande universidade canadense sobre a existência de Deus. Depois de minha palestra, uma estudante levemente irada escreveu no seu cartão de comentários: “Estava do seu lado até você chegar naquele assunto sobre Jesus. Deus não é o Deus cristão!”.

Hoje, essa atitude é típica demais. A maioria das pessoas se alegra em concordar que Deus existe, mas em nossa sociedade pluralista tem-se tornado politicamente incorreto sustentar que Deus revelou a si mesmo de modo decisivo em Jesus. Que justificativas os cristãos podem apresentar, em contraste com hindus, judeus e muçulmanos, para entenderem que o Deus cristão é real? A resposta do Novo Testamento é: a ressurreição de Jesus. “[Deus] determinou um dia em que julgará o mundo com justiça, por meio do homem que estabeleceu com esse propósito. E ele garantiu isso a todos ao ressuscitá-lo dentre os mortos” (At 17.31). A ressurreição é a prova que Deus apresenta para as reivindicações pessoais e radicais de Jesus acerca de sua autoridade divina.

Assim, como sabemos que Jesus está ressuscitado dos mortos? O escritor do conhecido cântico de Páscoa diz: “Tu me perguntas como sei que ele vive? Ele vive no meu coração!”. Essa resposta é perfeitamente apropriada em nível individual. Mas, quando os cristãos envolvem os incrédulos em praça pública — como nas “Cartas à Redação” de um jornal local, ou em programas em que o ouvinte ou o telespectador faz perguntas ou emite opiniões ao vivo, em reuniões de pais e mestres ou numa mera conversa com colegas de trabalho —, então, é crucial nossa capacidade de apresentar evidências objetivas que sustentem nossas crenças. Caso contrário, nossas reivindicações não são mais substanciais do que as afirmações de alguém que alegue ter uma experiência particular com Deus.

Felizmente, o cristianismo é religião enraizada na história, cujas reivindicações podem ser, em considerável medida, investigadas historicamente. Vamos supor que nos aproximamos dos escritos do Novo Testamento não como Escritura inspirada, mas como mera coleção de documentos em grego que chegaram a nós do século I, sem nenhuma suposição quanto à sua fidedignidade, exceto a maneira como consideramos normalmente outras fontes da história antiga. Talvez nos surpreendamos ao saber que a maioria dos críticos de Novo Testamento que investigam os evangelhos dessa maneira aceita os fatos centrais que sustentam a ressurreição de Jesus. Quero destacar que não estou falando apenas de estudiosos evangélicos ou conservadores, mas da ampla gama de críticos do Novo Testamento que ensina em universidades seculares e seminários não evangélicos. Por espantoso que pareça, a maior parte deles passou a considerar como históricos os fatos fundamentais que apoiam a ressurreição de Jesus. Esses fatos são os seguintes:

Fato número 1Depois da crucificação, Jesus foi sepultado num túmulo por José de Arimateia. Esse fato é muito importante, pois significa, contrariando críticos radicais como John Dominic Crossan do Jesus Seminar [Seminário Jesus], que o local onde estava o túmulo de Jesus era igualmente conhecido de judeus e de cristãos. Nesse caso, os discípulos jamais poderiam ter anunciado a sua ressurreição em Jerusalém se o túmulo não estivesse vazio. Pesquisadores de Novo Testamento constataram o primeiro fato com base em evidências como as seguintes:

1. O sepultamento de Jesus está atestado na antiquíssima tradição citada por Paulo em 1Coríntios 15.3-5:

Porque primeiro vos entreguei o que também recebi:

Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras;

e foi sepultado;

e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras;

e apareceu a Cefas, e depois aos Doze.

Paulo não usa apenas os típicos termos rabínicos “recebi” e “entreguei”, com relação à informação que ele está passando aos coríntios, mas os versículos 3-5 são uma fórmula de quatro linhas carregada de características não paulinas. Isso tem convencido todos os especialistas de que Paulo está, conforme ele diz, citando uma antiga tradição recebida por ele após tornar-se cristão. Essa tradição remonta provavelmente à sua visita investigadora a Jerusalém por volta de 36 d.C., quando passou duas semanas com Cefas e Tiago (Gl 1.18). Datada, portanto, dentro do limite de cinco anos após a morte de Jesus. O curtíssimo intervalo de tempo e esse contato pessoal tornam, nesse caso, inútil discutir a possibilidade de lenda.

2. O relato do sepultamento faz parte de material muito antigo usado por Marcos ao escrever seu evangelho. Os evangelhos tendem a consistir de breves instantâneos da vida de Jesus vagamente ligados e nem sempre organizados cronologicamente. Mas, quando chegamos ao relato da paixão, temos uma narrativa única, regular e continuamente fluente. Isso sugere que a história da paixão foi uma das fontes de informação usadas por Marcos ao escrever seu evangelho. Porém, a maioria dos eruditos entende que Marcos já é o evangelho mais antigo, e a sua fonte sobre a paixão de Jesus é, evidentemente, ainda mais antiga. A comparação das narrativas dos quatro evangelhos mostra que seus relatos não divergem entre si até após o sepultamento. Isso significa que o relato do sepultamento era parte da narrativa da paixão. Mais uma vez, a sua antiguidade milita contra a possibilidade de ser lendário.

3. Como membro do tribunal judaico que condenou Jesus, é improvável que José de Arimateia fosse invenção cristã. Havia um forte ressentimento contra a liderança judaica em razão do seu papel na condenação de Jesus (1Ts 2.15). É, portanto, altamente improvável que os cristãos inventassem um membro do tribunal que condenou Jesus e que o honrou ao lhe dar um sepultamento adequado, em vez de deixá-lo ser despachado como criminoso comum.

4. Não existe nenhum outro relato concorrente sobre o sepultamento. Se o sepultamento proporcionado por José fosse fictício, seria de esperar que achássemos algum vestígio histórico do que realmente aconteceu ao seu cadáver, ou se encontrássemos pelo menos alguma lenda rival. Mas todas as nossas fontes são unânimes acerca do honroso funeral conduzido por José.

Por essas e outras razões, a maioria dos críticos de Novo Testamento concorda que Jesus foi sepultado num túmulo por José de Arimateia. De acordo com o falecido John A. T. Robinson, da Universidade de Cambridge, o sepultamento de Jesus em um túmulo é “um dos fatos mais antigos e mais bem atestados sobre Jesus”.1

Fato número 2: No domingo seguinte à crucificação, o túmulo de Jesus foi encontrado vazio por um grupo de suas seguidoras. Entre as razões que levaram muitos estudiosos a essa conclusão, estão as seguintes:

1. O relato do túmulo vazio também faz parte da antiga fonte sobre a paixão usada por Marcos. A fonte sobre a paixão não termina em morte e derrota, mas com o relato do túmulo vazio, formando uma única peça gramatical com o relato do sepultamento.

2. A tradição antiga citada por Paulo em 1Coríntios 15.3-5 implica o fato do túmulo vazio. Para qualquer judeu do primeiro século, dizer que um homem morto “estava sepultado e agora ressurgiu” implicava que se tinha deixado para trás uma sepultura vazia. Além disso, a expressão “ao terceiro dia” deriva provavelmente da visita das mulheres ao túmulo no terceiro dia, na contagem judaica, após a crucificação. A tradição tetrástica citada por Paulo sintetiza tanto os relatos dos evangelhos como a pregação apostólica primitiva (At 13.28-31); significativamente, a terceira linha da tradição corresponde ao relato do túmulo vazio.

3. O relato é simples e faltam-lhe sinais de embelezamento lendário. Tudo que se precisa fazer para avaliar esse ponto é comparar a narrativa de Marcos com os extravagantes relatos lendários encontrados nos evangelhos apócrifos do século II, nos quais se vê Jesus sair do túmulo com a cabeça tocando as nuvens e seguido de uma cruz falante!

4. O fato de o testemunho de mulheres não ser levado em consideração na Palestina do primeiro século é favorável ao seu papel de descobrir o túmulo vazio. De acordo com Josefo, o testemunho de mulheres era considerado tão índigno que não podia ser nem mesmo admitido num tribunal judaico. Qualquer relato lendário primitivo certamente teria feito com que os discípulos do sexo masculino descobrissem o túmulo vazio.

5. A antiquíssima alegação judaica de que os discípulos tinham roubado o corpo de Jesus (Mt 28.15) mostra que faltava realmente o corpo na sepultura. A reação mais antiga dos judeus à proclamação dos discípulos de que “Ele ressurgiu dos mortos!” não foi apontar para o túmulo ocupado e zombar deles como fanáticos, mas alegar que eles tinham levado embora o corpo de Jesus. Assim, temos evidências do túmulo vazio a partir dos próprios oponentes dos cristãos primitivos.

Poderíamos seguir adiante, mas penso que já se disse o bastante para indicar por que, nas palavras do austríaco Jacob Kremer, especialista na ressurreição, “a grande maioria dos exegetas acredita com firmeza na fidedignidade das declarações bíblicas acerca do túmulo vazio”.2

Fato número 3: Em múltiplas ocasiões e em várias circunstâncias, diferentes indivíduos e grupos de pessoas vivenciaram aparições de Jesus ressurreto dos mortos.

Esse é fato quase universalmente reconhecido entre os estudiosos do Novo Testamento, pelas seguintes razões:

1. A lista de testemunhas oculares das aparições de Jesus ressurreto que é citada por Paulo em 1Coríntios 15.5-7 garante que tais aparecimentos ocorreram, incluindo aparecimentos a Pedro (Cefas), aos Doze, aos 500 irmãos e a Tiago.

2. As tradições de aparições nos evangelhos fornecem atestações múltiplas e independentes dessas aparições. Essa é uma das marcas mais importantes da historicidade. A aparição a Pedro é atestada independentemente por Lucas e a aparição aos Doze, por Lucas e João. Temos também testemunhos independentes de aparecimentos na Galileia em Marcos, Mateus e João, bem como às mulheres em Mateus e João.

3. Certas aparições têm marcas próprias de historicidade. Por exemplo, temos boas evidências a partir dos evangelhos de que nem Tiago nem nenhum dos irmãos mais novos de Jesus acreditavam nele enquanto viveu. Não há razão para imaginar que a igreja primitiva produziria relatos fictícios acerca da incredulidade dos familiares de Jesus se eles tivessem sido sempre seguidores fiéis. Mas é indiscutível que Tiago e seus irmãos se tornaram de fato cristãos ativos após a morte de Jesus. Tiago era considerado apóstolo e ascendeu à posição de liderança da igreja de Jerusalém. De acordo com o historiador judeu Josefo, do século I, Tiago foi martirizado por sua fé em Cristo no final da década de 60 d.C. Ora, a maioria de nós tem irmãos. O que seria necessário para convencê-lo de que seu irmão é o Senhor, a tal ponto que você estaria pronto para morrer por essa fé? Seria possível haver alguma dúvida de que essa notável transformação no irmão mais novo de Jesus tenha ocorrido porque, nas palavras de Paulo, “depois [ele] apareceu a Tiago”?

O próprio Gerd Lüdemann, o principal crítico alemão da ressurreição, admite: “Pode-se considerar como historicamente certo que Pedro e os discípulos passaram por situações, depois da morte de Jesus, nas quais Jesus lhes apareceu como o Cristo ressurreto”.3

Fato número 4: Os discípulos originais acreditavam que Jesus ressuscitara dos mortos, apesar de terem toda predisposição para não crer. Pensem na situação que os discípulos enfrentaram depois da crucificação de Jesus:

1. O líder deles estava morto. E os judeus não tinham nenhuma crença acerca de um Messias morto, muito menos ressurreto. Esperava-se que o Messias expulsasse os inimigos de Israel (isto é, Roma) e reinstaurasse o reino davídico — e não que sofresse a morte vergonhosa de um criminoso.

2. De acordo com a lei judaica, a execução de Jesus como criminoso demonstrava que ele era herege, um homem literalmente debaixo da maldição de Deus (Dt 21.23). Para os discípulos, a catástrofe da crucificação não era simplesmente que seu Mestre se fora, mas que a crucificação mostrou de fato que os fariseus estavam certos o tempo todo, que durante três anos eles tinham seguido um herege, um homem amaldiçoado por Deus!

3. As crenças judaicas a respeito da vida após a morte excluíam a possibilidade de alguém ressuscitar dos mortos para a glória e a imortalidade antes da ressurreição geral no fim do mundo. Tudo o que os discípulos poderiam fazer seria preservar o túmulo do seu Mestre como um santuário onde seus ossos poderiam descansar até o dia em que todos os justos de Israel que estivessem mortos fossem ressuscitados por Deus para a glória.

A despeito de tudo isso, os discípulos originais creram e estavam dispostos a enfrentar a morte pelo fato da ressurreição de Jesus. Luke T. Johnson, especialista em Novo Testamento da Universidade Emory, pondera: “é indispensável algum tipo de experiência poderosa e transformadora para produzir a espécie de movimento que foi o cristianismo primitivo […]”.4 N. T. Wright, destacado erudito britânico, conclui: “Como historiador, não consigo explicar a ascensão do cristianismo primitivo a menos que Jesus tenha ressurgido, deixando atrás de si um túmulo vazio”. 5

Em síntese, há quatro fatos acerca dos quais concorda a maioria dos acadêmicos que escrevem sobre essas questões e que qualquer hipótese histórica adequada tem de levar em consideração: o sepultamento de Jesus por José de Arimateia, a descoberta do túmulo vazio, suas aparições depois da morte e a origem da crença dos discípulos na sua ressurreição.

Agora, a pergunta é: qual é a melhor explicação para esses quatro fatos? A maioria dos estudiosos permanece agnóstica acerca dessa pergunta. Mas o cristão pode sustentar que a hipótese que melhor explica esses fatos é: “Deus ressuscitou Jesus dos mortos”.

Em seu livro Justifying Historical Descriptions [Justificando descrições históricas], o historiador C. B. McCullagh relaciona seis testes que os historiadores usam para determinar qual seja a melhor explicação para determinados fatos históricos.A hipótese “Deus ressuscitou Jesus dos mortos” passa em todos esses testes:

1. Ela tem grande escopo explanatório: explica por que o túmulo foi encontrado vazio, por que os discípulos viram aparições de Jesus após a morte e por que a fé cristã passou a existir.

2. Ela tem grande poder explanatório: explica por que o corpo de Jesus se fora, por que as pessoas viram Jesus vivo várias vezes apesar da sua execução pública recente, e assim por diante.

3. Ela é plausível: em razão do contexto histórico da própria vida e reivindicações sem paralelo de Jesus, a ressurreição serve de confirmação divina para essas reivindicações radicais.

4. Ela não é ad hoc nem inventada: requer somente uma hipótese a mais: que Deus existe. Não é necessária nem mesmo essa hipótese adicional, caso já se acredite que Deus existe.

5. Ela está de acordo com as crenças estabelecidas. A hipótese “Deus ressuscitou Jesus dos mortos” não está de modo algum em conflito com a crença estabelecida de que as pessoas não ressuscitam naturalmente dos mortos. O cristão aceita essa crença tão sinceramente quanto aceita a hipótese de que Deus ressuscitou Jesus dos mortos.

6. Ela supera em muito qualquer de suas hipóteses rivais no cumprimento das condições 1–5. Ao longo da história, foram apresentadas várias explicações alternativas para os fatos. Por exemplo, a hipótese da conspiração, a hipótese da morte aparente, a hipótese da alucinação, e assim por diante. Essas hipóteses têm sido rejeitadas quase universalmente pelos estudos contemporâneos. Nenhuma dessas hipóteses naturalistas conseguiu atender às condições tão bem como a hipótese da ressurreição.

Ora, isso coloca o crítico cético em situação um tanto desesperada. Algum tempo atrás, tive um debate sobre a ressurreição com um professor na Universidade da Califórnia, em Irvine. Ela havia escrito a sua dissertação doutoral sobre a ressurreição de Jesus e estava totalmente familiarizado com as evidências. O debatedor não podia negar o fato do honroso sepultamento de Jesus, seu túmulo vazio, suas aparições post-mortem, e a origem da crença dos discípulos na sua ressurreição. Portanto, seu único recurso era apresentar alguma explicação alternativa para esses fatos. E, assim, ele alegou queJesus tinha um irmão gêmeo idêntico e desconhecido, separado dele ao nascer, que retornou a Jerusalém no momento exato da crucificação, roubou o corpo de Jesus da sepultura, e se apresentou aos seus discípulos que, erroneamente, deduziram que Jesus ressuscitara dos mortos! Bem, não me incomodaria em estender a respeito de como refutei essa teoria, mas acho o exemplo ilustrativo da profundidade a que o ceticismo desesperado precisa descer para negar a historicidade da ressurreição de Jesus. De fato, as evidências são tão fortes que um dos principais teólogos judeus de hoje, o falecido Pinchas Lapide, que ensinou na Universidade Hebraica em Israel, declarou-se convencido, com base nas evidências, de que o Deus de Israel ressuscitou Jesus de Nazaré dos mortos!7

A importância da ressurreição de Jesus reside no fato de que não foi um Zé Ninguém qualquer que foi ressuscitado dos mortos, mas Jesus de Nazaré, cuja crucificação foi instigada pelos líderes judeus por causa da sua reivindicação blasfema de autoridade divina. Se tal homem foi ressuscitado dos mortos, o Deus a quem ele supostamente blasfemava confirmou as suas reivindicações. Portanto, nessa era de relativismo e pluralismo religiosos, a ressurreição de Jesus constitui-se a rocha sólida sobre a qual os cristãos podem tomar posição a favor da autorrevelação decisiva de Deus em Jesus.

 

 Notas

John A. T. Robinson, The Human Face of God (Filadélfia: Westminster, 1973), p. 131.

2 Jacob Kremer, Die Osterevangelien—Geschichten um Geschichte (Stuttgart: Katholisches Bibelwerk, 1977), pp. 49-50.

3 Gerd Lüdemann, What Really Happened to Jesus?, trad. John Bowden (Louisville, Kent.: Westminster John Knox Press, 1995), p. 80.

4 Luke Timothy Johnson, The Real Jesus (São Francisco: Harper San Francisco, 1996), p. 136.

5 N. T. Wright, “The New Unimproved Jesus”, Christianity Today (13 de setembro de 1993), p. 26.

6 C. Behan McCullagh, Justifying Historical Descriptions (Cambridge: Cambridge University Press, 1984), p. 19.

7 Pinchas Lapide, The Resurrection of Jesus, trad. Wilhelm C. Linss (Londres: SPCK, 1983).

 

William Lane Craig é doutor em filosofia pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra, e em teologia pela Universidade de Munique, na Alemanha. Atualmente é professor de filosofia na Universidade Biola, na Califórnia. É conferencista internacional e autor de dezenas de artigos e livros no campo da filosofia e da apologética. Retirado do site oficial de Craig em português. Para saber mais sobre o tema deste artigo, veja William Lane Craig, Apologética contemporânea: a veracidade da fé cristã (São Paulo: Vida Nova, 2012), p. 319-386. 

The post Jesus ressuscitou? appeared first on Missão Pós-Moderna.

]]>
O problema do sofrimento https://missaoposmoderna.biblecast.com.br/2014/06/o-problema-do-sofrimento/ Tue, 24 Jun 2014 15:31:07 +0000 http://rabis.co/migramissaopos/?p=1795 Se Deus é bom e todo-poderoso, como pode permitir o mal? Essa antiga questão é abordada na Revista Adventista de maio (p. 20-21), por Marina Garner Assis, mestranda em Filosofia da Religião na Trinity International University (EUA). Leia a matéria completa no site da Revista Adventista. Marina apresenta, de maneira acessível …

The post O problema do sofrimento appeared first on Missão Pós-Moderna.

]]>
Alvin Plantinga
Alvin Plantinga

Se Deus é bom e todo-poderoso, como pode permitir o mal?

Essa antiga questão é abordada na Revista Adventista de maio (p. 20-21), por Marina Garner Assis, mestranda em Filosofia da Religião na Trinity International University (EUA). Leia a matéria completa no site da Revista Adventista.

Marina apresenta, de maneira acessível e interessante, as contribuições do filósofo cristão Alvin Plantinga. Poucos sabem que, hoje, a maioria dos filósofos, tanto teístas como ateus, concorda que não existe nenhuma incompatibilidade lógica entre a existência de Deus e o mal. E esse (quase) consenso se deve especialmente ao trabalho de Plantinga. Confira as declarações de alguns filósofos:

Robert Adams (1995): “Penso que é justo dizer que Plantinga resolveu esse problema. Isto é, ele argumentou convincentemente pela consistência [de Deus e o mal]”.

William Alston (1996): “Agora há o reconhecimento por (quase) todas as partes de que o argumento lógico [do mal] está falido”.

Paul Draper (1996): “Argumentos lógicos do mal são uma espécie em extinção (extinta?)”.

Chad Meister (2009): “A maioria dos filósofos aceita a defesa do livre-arbítrio de Plantinga e, portanto, vê o problema lógico do mal como suficientemente refutado”.

O livro de Plantinga, citado por Marina, foi publicado em português como Deus, a liberdade e o mal (São Paulo: Vida Nova, 2012). Uma versão resumida do conteúdo desse livro é apresentada em William Lane Craig, Em guarda: defenda a fé cristã com razão e precisão (São Paulo: Vida Nova, 2011), p. 163-194.

Sobre a contribuição de Plantinga, veja também Rodrigo Rocha Silveira, “Deus e o mal: uma análise da resposta de Alvin Plantinga ao problema do mal” (monografia de graduação em Filosofia, Universidade de Brasília, 2011). As citações dos filósofos foram retiradas desse trabalho.

The post O problema do sofrimento appeared first on Missão Pós-Moderna.

]]>
Deus não está morto https://missaoposmoderna.biblecast.com.br/2014/03/deus-nao-esta-morto/ Thu, 27 Mar 2014 23:16:11 +0000 http://rabis.co/migramissaopos/?p=1463 “Na filosofia, quase de um dia para o outro, passou a ser ‘academicamente respeitável’ defender o teísmo [a existência de Deus], transformando-se ela hoje em um campo favorável à entrada dos teístas mais inteligentes etalentosos da academia atual. Uma contagem mostra que, no catálogo de 2000-2001 da editora da Universidade …

The post Deus não está morto appeared first on Missão Pós-Moderna.

]]>
“Na filosofia, quase de um dia para o outro, passou a ser ‘academicamente respeitável’ defender o teísmo [a existência de Deus], transformando-se ela hoje em um campo favorável à entrada dos teístas mais inteligentes etalentosos da academia atual. Uma contagem mostra que, no catálogo de 2000-2001 da editora da Universidade de Oxford, há 96 livros recém-publicados sobre filosofia da religião (94 em defesa do teísmo e 2 apresentando os ‘dois lados’). Em comparação, há 28 livros nesse catálogo sobre filosofia da linguagem, 23 sobre epistemologia (incluindo livros de epistemologia religiosa, como Warranted Christian Belief [Crença cristã garantida], de Alvin Plantinga), 14 sobre metafísica, 61 sobre filosofia da mente e 51 sobre filosofia da ciência.”

– Quentin Smith, filósofo ateu, “The Metaphilosophy of Naturalism”, Philo, v. 4, n. 2 (2001), p. 4.

Saiba mais no artigo de William Lane Craig, “A revolução na filosofia anglo-americana”.

The post Deus não está morto appeared first on Missão Pós-Moderna.

]]>
O renascimento de Deus https://missaoposmoderna.biblecast.com.br/2014/01/o-renascimento-de-deus/ Wed, 15 Jan 2014 12:58:39 +0000 http://rabis.co/migramissaopos/?p=1232 Neste artigo de capa para a revista Christianity Today, William Lane Craig descreve o renascimento, entre os filósofos contemporâneos, dos argumentos a favor da existência de Deus. Craig é um dos mais renomados especialistas em apologética, que é a defesa racional da fé cristã. Ele possui doutorado (Ph.D.) em filosofia pela Universidade …

The post O renascimento de Deus appeared first on Missão Pós-Moderna.

]]>

Neste artigo de capa para a revista Christianity Today, William Lane Craig descreve o renascimento, entre os filósofos contemporâneos, dos argumentos a favor da existência de Deus. Craig é um dos mais renomados especialistas em apologética, que é a defesa racional da fé cristã. Ele possui doutorado (Ph.D.) em filosofia pela Universidade de Birmingham (Inglaterra) e em teologia pela Universidade de Munique (Alemanha). A partir dos próximos dias, vou postar vídeos e artigos de Craig.

///

Pode-se pensar, devido à atual enchente de best-sellers ateístas, que a crença em Deus se tornou intelectualmente indefensável para as pessoas pensantes, atualmente. Mas uma olhada nos livros de Richard Dawkins, Sam Harris e Christopher Hitchens, dentre outros, revela rapidamente que o chamado Novo Ateísmo carece de músculos intelectuais. Ele é complacentemente ignorante acerca da revolução que tem acontecido na filosofia anglo- americana. Ele reflete o cientificismo de uma geração passada, ao invés do cenário intelectual contemporâneo.

O alto ponto cultural daquela geração chegou em 8 de abril de 1966, quando a revista Time publicou uma reportagem principal cuja capa era completamente preta, exceto pelas três palavras coloridas em letras vermelhas brilhantes: “Deus está morto?”. A reportagem descrevia o movimento da “morte de Deus”, então corrente na teologia americana.

Mas, parafraseando Mark Twain, as notícias sobre o falecimento de Deus foram prematuras. Pois, ao mesmo tempo em que teólogos escreviam o obituário de Deus, uma nova geração de jovens filósofos estavam descobrindo sua vitalidade.

Nas décadas de 1940 e 1950, muitos filósofos acreditavam que falar sobre Deus, visto que não se pode verificá-lo pelos cinco sentidos, é sem sentido — um verdadeiro disparate. Este verificacionismo finalmente desmoronou, em parte porque os filósofos perceberam que o verificacionismo em si não podia ser verificado! O colapso do verificacionismo foi o evento filosófico mais importante do século 20. Sua queda significava que os filósofos estavam livres mais uma vez para cuidar de problemas tradicionais da filosofia que o verificacionismo havia suprimido. Junto com o ressurgimento do interesse nas questões filosóficas tradicionais, apareceu algo completamente inesperado: o renascimento da filosofia cristã.

O ponto de virada provavelmente surgiu em 1967, com a publicação de God and Other Minds: A Study of the Rational Justification of Belief in God [Deus e outras mentes: um estudo sobre a justificação racional da crença em Deus], escrito por Alvin Plantinga. Nos passos de Plantinga, seguiu-se multidão de filósofos cristãos, escrevendo em periódicos acadêmicos, participando de conferências profissionais e publicando nas melhores editoras acadêmicas. A cara da filosofia anglo-americana tem sido transformada, como resultado. O ateísmo, embora talvez ainda seja o ponto de vista dominante na academia americana, é uma filosofia em retirada.

Em artigo recente, o filósofo Quentin Smith, da Universidade de Western Michigan, lamenta o que ele chama de “dessecularização da academia que evoluiu na filosofia desde os fins da década de 1960”. Ele reclama sobre a passividade dos naturalistas em face da onda dos “teístas inteligentes e talentosos que estão entrando na academia atualmente”. Smith conclui: “Deus não está ‘morto’ na academia; ele retornou à vida no final da década de 1960 e agora está vivo e passa bem em sua última fortaleza acadêmica, os departamentos de filosofia”.

O renascimento da filosofia cristã tem sido acompanhado por um ressurgimento do interesse na teologia natural, o ramo da teologia que procura provar a existência de Deus sem recorrer à revelação divina. O objetivo da teologia natural é justificar uma cosmovisão teísta ampla, uma que seja comum a cristãos, judeus, muçulmanos e deístas. Enquanto poucos os chamariam de provas irresistíveis, todos os tradicionais argumentos para a existência de Deus, sem mencionar alguns novos argumentos criativos, encontram articulados defensores atualmente.


Os argumentos

Em primeiro lugar, vamos fazer um rápido passeio por alguns dos argumentos atuais da teologia natural. Vamos conhecê-los em suas formas condensadas. Isto tem a vantagem de tornar a lógica dos argumentos bem clara. As estruturas dos argumentos poderão, então, ser desenvolvidas mediante discussão mais completa. Uma segunda questão crucial — sobre qual a utilidade de um argumento racional em nossa era supostamente pós-moderna — será analisada na próxima seção.

O argumento cosmológico. Versões deste argumento são defendidas por Alexander Pruss, Timothy O’Connor, Stephen Davis, Robert Koons e Richard Swinburne, entre outros. Uma formulação simples do argumento é:

1. Tudo o que existe tem uma explicação para sua existência (seja na necessidade de sua própria natureza ou em uma causa externa).
2. Se o universo tem uma explicação para a sua existência, esta explicação é Deus.
3. O universo existe.
4. Logo, a explicação para a existência do universo é Deus.

Este argumento é logicamente válido. Então, a única questão é a veracidade das premissas. A premissa (3) é inegável para qualquer um que busque sinceramente a verdade; logo, a questão está nas premissas (1) e (2).

A premissa (1) parece bastante plausível. Imagine que você esteja andando pela floresta e encontre uma bola translúcida parada no chão. Você iria achar bastante bizarra a afirmação de que a bola apenas existe sem nenhuma explicação. E aumentar o tamanho da bola, até que ela se torne do tamanho do cosmos, não iria servir para eliminar a necessidade de uma explicação para sua existência.

A premissa (2) pode parecer controversa, em princípio, mas ela é de fato idêntica à declaração ateísta usual de que, se Deus não existe, então o universo não tem uma explicação para sua própria existência. Além disso, (2) é bastante plausível por seu próprio mérito. Pois uma causa externa para o universo precisa estar além do espaço e do tempo e, portanto, não pode ser física ou material. Ora, há apenas duas classes de objetos que se adéquam a esta descrição: objetos abstratos, como números, ou uma mente inteligente. Mas objetos abstratos são causalmente impotentes. O número 7, por exemplo, não pode causar nada. Portanto, conclui-se que a explicação para o universo é uma mente externa, transcendente e pessoal que criou o universo — o que a maioria das pessoas tradicionalmente tem chamado de “Deus”.

O argumento cosmológico kalam. Esta versão do argumento tem uma rica herança islâmica. Stuart Hackett, David Oderberg, Mark Nowack e eu temos defendido o argumento kalam. Sua formulação é simples:

1. Tudo que começa a existir tem uma causa.
2. O universo começou a existir.
3. Logo, o universo tem uma causa.

A premissa (1) certamente parece mais plausível que sua negação. A idéia de que as coisas possam surgir sem uma causa é pior do que mágica. No entanto, é extraordinário como tantos não teístas, devido à força da evidência para a premissa (2), têm negado (1), ao invés de concordar com a conclusão do argumento.

Os ateus têm tradicionalmente negado (2) em favor de um universo eterno. Mas existem boas razões, filosóficas e científicas, para duvidar de que o universo não teve um início. Filosoficamente, a idéia de um passado infinito parece absurda. Se o universo nunca teve um início, então o número de eventos passados na história do universo é infinito. Esta não apenas é uma ideia paradoxal, mas também levanta o problema: como poderia o evento presente ter alguma vez chegado se um número infinito de eventos anteriores deve ter transcorrido antes?

Além disso, uma série extraordinária de descobertas na astronomia e na astrofísica durante o último século tem soprado nova vida no argumento cosmológico kalam. Agora, possuímos evidências razoavelmente fortes de que o universo não é eterno no passado, mas teve início absoluto há 13,7 bilhões de anos em um evento cataclísmico conhecido como o Big Bang [Grande Explosão].

O Big Bang é tão extraordinário porque ele representa a origem do universo a partir de literalmente nada. Pois toda a matéria e energia, e até mesmo os próprios espaço físico e tempo, vieram a existir no Big Bang. Enquanto alguns cosmologistas têm tentado criar teorias alternativas com o objetivo de evitar esse início absoluto, nenhuma dessas teorias teve sucesso na comunidade científica. De fato, em 2003, os cosmologistas Arvind Borde, Alan Guth e Alexander Vilenkin foram capazes de provar que qualquer universo que está, notavelmente, em um estado de expansão cósmica, não pode ser eterno no passado, mas deve ter possuído um início absoluto. De acordo com Vilenkin, “os cosmologistas não podem mais se esconder atrás da possibilidade de um universo eterno no passado. Não há escapatória; eles devem encarar o problema de um início cósmico”. Segue-se, então, que deve haver uma causa transcendente que trouxe o universo à existência, uma causa que, como vimos, é plausivelmente atemporal, não espacial, imaterial e pessoal.

O argumento teleológico. O antigo argumento do design [projeto] hoje continua forte como nunca, defendido em várias formas por Robin Collins, John Leslie, Paul Davies, William Dembski, Michael Denton e outros. Os defensores do movimento do Projeto Inteligente [Intelligent Design] continuam a tradição de encontrar exemplos de projeto em sistemas biológicos. Mas o destaque na discussão está no recém descoberto extraordinário ajuste preciso [fine-tuning] do cosmos para a vida. Este ajuste preciso é de dois tipos. Primeiramente, quando as leis da natureza são expressas como equações matemáticas, elas contêm certas constantes, como a constante gravitacional. Os valores matemáticos dessas constantes não são determinados pelas leis da natureza. Segundo, existem certas quantidades arbitrárias que são simplesmente partes das condições iniciais do universo — por exemplo, a quantidade de entropia no universo.

Estas constantes e quantidades incidem em um conjunto extraordinariamente limitado de valores que permitem a vida. Se tais constantes e quantidades fossem alteradas por menos que a espessura de um fio de cabelo, o equilíbrio que permite a vida seria destruído, e a vida não existiria.

Destarte, pode-se argumentar:

1. O ajuste preciso do universo é resultado da necessidade física, ou do acaso ou do design.
2. Ele não é resultado da necessidade física e nem do acaso.
3. Logo, ele é resultado do design.

A premissa (1) simplesmente apresenta as opções existentes para explicar o ajuste preciso. A premissa principal, portanto, é (2). A primeira alternativa, necessidade física, afirma que as constantes e as quantidades devem ter o valor que possuem. Esta alternativa é pouco recomendável. As leis da natureza são consistentes com uma ampla gama de valores para as constantes e quantidades. Por exemplo, atualmente, a candidata com melhor potencial para se tornar a teoria unificada da física, a teoria das supercordas ou “Teoria-M”, permite um “cenário cósmico” de cerca de 10500 possíveis diferentes universos governados pelas leis da natureza, e apenas uma proporção infinitesimal deles pode sustentar a vida.

Com relação ao acaso, os teóricos contemporâneos reconhecem cada vez mais que as probabilidades contra a sintonia fina são simplesmente insuperáveis, a menos que se esteja preparado para abraçar a hipótese especulativa de que o nosso universo é apenas um membro de um agrupamento infinito e aleatoriamente ordenado de universos (i.e., o multiverso). Nesse agrupamento de mundos, cada mundo fisicamente possível é concretizado, e obviamente nós podemos observar apenas o mundo onde as constantes e quantidades são consistentes com a nossa existência. É aqui que o debate esquenta, atualmente. Físicos como Roger Penrose, da Universidade de Oxford, lançam poderosos argumentos contra qualquer apelo a um multiverso como opção para se explicar o ajuste preciso.

O argumento moral. Um número de eticistas como Robert Adams, William Alston, Mark Linville, Paul Copan, John Hare, Stephen Evans e outros tem defendido teorias de ética do “comando divino”, que sustentam diversos argumentos morais para a existência de Deus. Por exemplo, um desses argumentos é:

1. Se Deus não existe, valores morais e obrigações objetivos não existem.
2. Valores morais e obrigações objetivos existem.
3. Logo, Deus existe.

Valores morais e obrigações objetivos possuem o significado de valores e obrigações que são válidos e obrigatórios, independentemente da opinião humana. Um bom número de ateus e teístas igualmente concordam com a premissa (1). Dada uma cosmovisão naturalista, seres humanos são apenas animais, e as atividades que denominamos assassinato, tortura e estupro são naturais e moralmente neutras, amorais, no reino animal. Além disso, se não há ninguém para ordenar ou proibir certas ações, como podemos ter obrigações ou proibições morais?

A premissa (2) parece ser mais contestável, mas provavelmente será uma surpresa para a maioria dos leigos saber que (2) é amplamente aceita entre os filósofos. Pois qualquer argumento contra uma moral objetiva tende a ser baseado em premissas que são menos evidentes do que a realidade dos valores morais em si, como apreendidos na nossa experiência moral. A maioria dos filósofos, portanto, reconhece distinções morais objetivas.

Os não teístas irão tipicamente se opor ao argumento moral com um dilema: algo é bom porque Deus o deseja, ou Deus deseja algo porque esse algo é bom? A primeira alternativa torna o bem e o mal arbitrários, enquanto a segunda torna o bem independente de Deus. Felizmente, o dilema é falso. Os teístas têm tradicionalmente abraçado uma terceira alternativa: Deus deseja algo porque Ele é bom. Isto é, o que Platão chamou de “o Bem” é a natureza moral de Deus em si. Deus é, por natureza, amoroso, bom, imparcial e assim por diante. Ele é o paradigma da bondade. Portanto, o bem não é independente de Deus.

Além disso, os mandamentos de Deus são uma expressão necessária de sua natureza. Suas ordens para nós, portanto, não são arbitrários, mas são reflexões necessárias de seu caráter. Isto nos dá uma fundação adequada para a afirmação de valores morais e obrigações objetivos.

O argumento ontológico. O famoso argumento de Anselmo foi reformulado e defendido por Alvin Plantinga, Robert Maydole, Brian Leftow e outros. Deus, observa Anselmo, é por definição o maior ser concebível. Se você pudesse conceber algo maior do que Deus, então isso seria Deus. Portanto, Deus é o maior ser concebível, um ser maximamente grande. Então, como seria tal ser? Ele seria todo-poderoso, onisciente e todo-bondoso, e iria existir em todos os mundos logicamente possíveis. Então, pode-se argumentar:

1. É possível que um ser maximamente grande (Deus) exista.
2. Se é possível que um ser maximamente grande exista, então um ser maximamente grande existe em algum mundo possível.
3. Se um ser maximamente grande existe em algum mundo possível, então ele existe em todos os mundos possíveis.
4. Se um ser maximamente grande existe em todos os mundos possíveis, então ele existe no mundo real.
5. Logo, um ser maximamente grande existe no mundo real.
6. Logo, um ser maximamente grande existe.
7. Logo, Deus existe.

Pode ser uma surpresa saber que os passos 2-7 deste argumento são relativamente incontroversos. A maioria dos filósofos concordaria que se a existência de Deus é até mesmo possível, então ele deve existir. Então a única questão é: a existência de Deus é possível? O ateu deve sustentar a impossibilidade da existência de Deus. Ele deve dizer que o conceito de Deus é incoerente, como o conceito de um solteiro casado ou um quadrado redondo. Mas o problema é que o conceito de Deus não parece ser incoerente desta maneira. A idéia de um ser que é todo-poderoso, onisciente e todo-bondoso em qualquer mundo possível parece perfeitamente coerente. E na medida em que a existência de Deus é até mesmo possível, conclui-se que Deus deve existir.


Por que se importar?

É claro que existem réplicas e tréplicas a todos estes argumentos, e ninguém imagina que um consenso será alcançado. De fato, após um período de passividade, existem atualmente sinais de que o gigante adormecido do ateísmo foi despertado de seu sono dogmático e está de volta à luta. J. Howard Sobel e Graham Oppy escreveram grossos livros acadêmicos criticando os argumentos da teologia natural e a Editora da Universidade de Cambridge [Cambridge University Press] lançou seu Companion to Atheism (Guia ao ateísmo), no ano passado. De qualquer forma, a própria presença do debate na academia é um sinal em si mesmo de quão saudável e vibrante é a cosmovisão teísta, atualmente.

Apesar de tudo, alguns podem pensar que o ressurgimento da teologia natural em nossos tempos é apenas muito trabalho perdido. Não vivemos em uma cultura pós-moderna na qual apelos a tais argumentos apologéticos não são mais eficazes? Argumentos racionais a favor da verdade do teísmo supostamente não devem mais funcionar. Alguns cristãos, portanto, advertem que deveríamos apenas compartilhar nossas narrativas e convidar as pessoas a participarem dela.

Este tipo de pensamento é culpado de um desastroso diagnóstico equivocado da cultura contemporânea. A ideia de que vivemos em uma cultura pós-moderna é um mito. De fato, uma cultura pós-moderna é uma impossibilidade; ela, absolutamente, não permitiria a vida. As pessoas não são relativistas quando se trata de assuntos como a ciência, a engenharia e a tecnologia. Ao invés disso, elas são relativistas e pluralistas em matérias de religião e ética. Mas, é claro, isso não é pós-modernismo; isso é modernismo! É apenas o velho verificacionismo, que sustenta que tudo o que você não pode provar com seus cinco sentidos se trata de matéria de gosto pessoal. Nós vivemos em uma cultura que se mantém profundamente modernista.

De outra forma, como poderíamos entender a popularidade do Novo Ateísmo? Dawkins e companhia são inerentemente modernistas e até mesmo cientificistas em suas abordagens. De acordo com a leitura pós-modernista da cultura contemporânea, seus livros deveriam cair como água na pedra. Ao invés disso, as pessoas devoram esses livros avidamente, convencidas de que a crença religiosa é tolice.

Visto sob esta luz, adaptar o evangelho para uma cultura pós-modernista é agir em prol do fracasso. Ao deixar de lado nossas melhores armas da lógica e da evidência, nós garantimos o triunfo do modernismo sobre nós. Se a igreja adotar esse plano de ação, as consequências para a próxima geração serão catastróficas. O cristianismo será reduzido a nada, senão outra voz na cacofonia de vozes em competição, cada uma compartilhando sua própria narrativa e nenhuma recomendando a si mesma como a verdade objetiva acerca da realidade. Enquanto isso, o naturalismo científico continuará a moldar nossa visão cultural de como o mundo realmente funciona.

Uma teologia natural robusta pode muito bem ser necessária para o evangelho ser efetivamente ouvido na sociedade ocidental de hoje. Em geral, a cultura ocidental é profundamente pós-cristã. É produto do Iluminismo, que introduziu na cultura europeia o fermento do secularismo que tem permeado a sociedade ocidental até hoje. Enquanto a maioria dos pensadores iluministas originais era de teístas, a maioria dos intelectuais ocidentais atualmente não considera mais o conhecimento teológico como possível. A pessoa que seguir a busca pela razão com firmeza, até o fim, será ateísta ou, no melhor dos casos, agnóstica.

Entender apropriadamente nossa cultura é importante porque o evangelho nunca é ouvido em isolamento. É sempre ouvido dentro do pano de fundo do ambiente cultural contemporâneo. Uma pessoa que cresce em um ambiente cultural no qual o Cristianismo é visto como uma opção intelectualmente viável irá apresentar abertura ao evangelho. Mas tanto faz pedir para o secularista acreditar em fadas, duendes ou em Jesus Cristo!

Cristãos que depreciam a teologia natural porque “ninguém vem à fé através de argumentos intelectuais” são, portanto, tragicamente míopes. Pois o valor da teologia natural vai muito além dos contatos evangelísticos imediatos de alguma pessoa. É tarefa mais ampla da apologética cristã, inclusive da teologia natural, ajudar a criar e manter um ambiente cultural em que o evangelho possa ser ouvido como uma opção intelectualmente viável para o homem e a mulher pensantes. Desta forma, isto fornece a permissão intelectual para as pessoas crerem quando seus corações forem tocados. À medida que avançamos no século 21, eu antecipo que a teologia natural será uma preparação crescentemente vital e relevante para que as pessoas recebam o evangelho.

Publicado originalmente no site oficial de William Lane Craig em português, onde podem ser encontrados diversos artigos e vídeos.

The post O renascimento de Deus appeared first on Missão Pós-Moderna.

]]>