ciência Archives - Missão Pós-Moderna https://missaoposmoderna.biblecast.com.br/tag/ciencia/ cristianismo no mundo contemporâneo Sun, 18 Feb 2018 01:53:02 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.0.1 https://missaoposmoderna.biblecast.com.br/wp-content/uploads/2018/02/missaopm-alpha-ico-150x150.png ciência Archives - Missão Pós-Moderna https://missaoposmoderna.biblecast.com.br/tag/ciencia/ 32 32 Todos os cisnes são brancos? https://missaoposmoderna.biblecast.com.br/2014/07/todos-os-cisnes-sao-brancos/ Wed, 30 Jul 2014 20:00:42 +0000 http://rabis.co/migramissaopos/?p=1970 Como vimos nos dois textos anteriores da série, a observação é fortemente orientada pela teoria. Sem uma teoria que lhe dê aporte, o observador teria que fazer uma lista interminável de observações vazias ou coletar uma série de dados sem sentido. Além disso, o processo indutivo, ainda que possuidor de …

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Como vimos nos dois textos anteriores da série, a observação é fortemente orientada pela teoria. Sem uma teoria que lhe dê aporte, o observador teria que fazer uma lista interminável de observações vazias ou coletar uma série de dados sem sentido. Além disso, o processo indutivo, ainda que possuidor de premissas verdadeiras, pode levar um observador atento a conclusões falsas. Essas constatações podem parecer estranhas num primeiro momento, mas foram levantadas por vários filósofos e cientistas preocupados em entender como a ciência funciona. Um deles foi um filósofo austríaco chamado Karl Popper (1902-1994). Popper deu origem ao que se conhece como falsificacionismo. Para ele, nem todas as observações e experimentos do mundo podem provar que uma teoria está certa, mas uma única observação contrária pode provar que uma teoria está errada. Em outras palavras, por mais que eu tenha observado o maior número possível de cisnes, não é possível dizer que todos os cisnes são brancos (afinal, nem todos os cisnes do mundo foram observados). No entanto, basta um único cisne preto para se concluir com certo grau de segurança: “Nem todos os cisnes são brancos.”

Para um falsificacionista, o critério de demarcação para apontar o que é ou não é ciência é sua falseabilidade, ou seja, uma vez que não é possível determinar através de observação e testes uma verdade de forma definitiva, é possível determinar a falsidade de algo de forma conclusiva. Teorias devem ser mantidas em stand by. Um cientista pode ter certeza de que uma teoria foi falseada, mas ele não pode ter a mesma certeza de que uma teoria é verdadeira. As duas únicas respostas que a natureza pode conceder a um cientista são:não e talvez. Na ciência, nunca se deve confiar dogmaticamente quando a natureza responder sim, ou melhor, quando disser sim, ela está, na verdade, querendo dizer pode ser. A ciência busca a todo tempo experimentos ou observações que possam falsear uma teoria de forma decisiva.

A forma como Popper chegou a essa constatação pode nos ajudar a visualizar melhor os princípios envolvidos para um falsificacionista. Popper queria separar nitidamente o que é ciência do que seria pseudociência. Para ele, uma das armadilhas do indutivismo é que ele pode ser empregado para validar qualquer teoria, ou melhor, as afirmações de determinadas correntes de pensamento poderiam ser verificadas em qualquer parte. Popper se incomodava particularmente com o marxismo e com a psicanálise. Toda vez que um marxista abre um jornal, ele encontra evidências de que existe uma luta de classes. Toda vez que um freudiano recebe um paciente em sua clínica, ele encontra evidências que corroboram sua teoria. Em suma, parecia que tudo poderia ser enquadrado em suas respectivas teorias.

Diante disso, Popper notou um paradoxo: essa aparente segurança apontada por essas duas correntes, essa tendência de sempre encontrar evidencias que as corroborassem, acabava se tornando uma fraqueza. A fim de servir como comparação, o filosofo austríaco relembrou uma apresentação em Viena da teoria da relatividade feita pelo próprio Albert Einstein. Uma das coisas que impressionou Popper é que Einstein descrevia com precisão o que poderia mostrar que sua teoria da relatividade estava errada: “Se o desvio das linhas espectrais para o vermelho devido ao potencial gravitacional não ocorrer, a teoria geral da relatividade será insustentável.”

Eureka! Aí estava uma atitude completamente diferente das atitudes dogmáticas dos marxistas e psicanalistas: Einstein buscava apontar evidências que não apenas corroborassem sua teoria, mas que também fossem capazes de responder à pergunta crucial: “O que demonstraria que estou errado?”

No entanto, por mais que a atitude de Popper seja importante e interessante para um cientista, ela também não é um critério seguro para demarcar o que é e o que não é ciência. Um dos motivos por que a falseabilidade de uma teoria não demonstra que a teoria está errada é que observações e testes são falíveis. Na ciência, não existe um experimento determinante, capaz de demonstrar que todo um arcabouço teórico está equivocado. Na realidade, pode até ser que a observação feita é que esteja errada e não a teoria em si. Na prática, pode ser que todos os cisnes sejam brancos e aquele único cisne preto encontrado não seja um cisne: ele pode ser um pato!

Um exemplo na história da ciência pode ilustrar por que o falsificacionismo não é um critério demarcador seguro: na época de Nicolau Copérnico (1473-1573) os astrônomos viviam medindo o tamanho de Vênus a olho nu. A conclusão a que chegaram: “Vênus, conforme visto da Terra, não muda de tamanho durante o passar do ano.” Ela se encaixava bem na teoria de Ptolomeu de que a Terra está imóvel no centro do cosmo, tendo Vênus como um dos corpos celestes que giraria em torno da terra. O curioso é que essa observação era tão segura que foi aceita por praticamente todos os astrônomos, adeptos de Ptolomeu (geocentrismo) ou de Copérnico (heliocentrismo). Afinal, os fatos levavam a ela.

Todavia, ela trazia problemas graves para o modelo heliocêntrico. Afinal, se Vênus e a Terra giram ao redor do Sol, haverá momentos do ano em que o primeiro estará mais distante e outros em que ele estará mais próximo da Terra, correto? É a inferência lógica. Sendo assim, por que o tamanho de Vênus, visto aqui da Terra, não oscila ao longo dos anos? O heliocentrismo previa que Vênus deveria mudar de tamanho ao longo do ano. Mas ele não o fazia. O teólogo protestante Andreas Osiander escreveu a seguinte observação no prefácio do primeiro livro de Copérnico De Revolutionibus Orbium Coelestium: “Estas hipóteses chegam mesmo a ser contrárias às observações sobre a órbita de Vênus.” Ou seja, ele afirmava que o fato de a Terra girar ao redor do Sol era apenas uma hipótese, já que contradizia dados observacionais como esse.

Contudo, hoje sabemos que essa observação era falsa. Ela se baseava num tipo de experimento falível, a saber, que o olho humano calcula de forma acurada fontes de luz distantes. Instrumentos ópticos posteriores revelaram que o tamanho de Vênus realmente oscila ao longo dos anos, quando observado aqui da Terra (veja aqui). Mas, no tempo de Copérnico, eles não tinham essa informação (nem esses aparelhos). Esse poderia ser um experimento determinante, mostrando que é falsa a teoria de Copérnico de que a Terra gira em torno do Sol. Mas não foi o que aconteceu. E, se tivesse acontecido, ou seja, se a teoria de Copérnico tivesse sido falseada por causa de um fato como esse, certamente seria um passo atrás.

Além disso, não é razoável interpretar alguns sins da ciência como talvez. Os astrônomos falsearam de forma conclusiva o geocentrismo. No entanto, eles afirmam com o mesmo grau de certeza que a Terra é esférica e que ela gira em torno do Sol. Manter teorias emstand by e fazer a pergunta “O que demonstraria que minha teoria está errada?” é um valioso princípio a fim de evitar o dogmatismo, mas não é um critério definitivo de demarcação para dizer que algo é cientifico ou não; ou que uma teoria foi ou não definitivamente falseada.

(Bruno Ribeiro é formando em Comunicação Social [Rádio e TV] pela Universidade Federal da Paraíba e mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação na mesma instituição. Retirado do site Criacionismo.)

Referências:

BASTOS FILHO, Jenner. O que é uma teoria cientifica. Maceió: EDUFAL, 1998.

KOESTLER, Arthur. O homem e o universo: como a concepção do universo se modificou, através dos tempos. São Paulo: Ibrasa, 1989.

POPPER, Karl. Autobiografia intelectual. Brasília: UnB, 1977.

POLKINGHORNE, John. Além da ciência. Bauru: EDUSC, 2001.

 

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Observações dependem de teorias https://missaoposmoderna.biblecast.com.br/2014/07/observacoes-dependem-de-teorias/ Sun, 27 Jul 2014 22:34:17 +0000 http://rabis.co/migramissaopos/?p=1966 No texto anterior, vimos que o processo indutivo, ainda que tenha premissas verdadeiras, pode levar um observador atento a conclusões falsas. Por isso, ele não seria um critério seguro para demarcar “o que é” e “o que não é” ciência. Ele é importante, mas tem seus limites. Aqui, quero explorar melhor …

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No texto anterior, vimos que o processo indutivo, ainda que tenha premissas verdadeiras, pode levar um observador atento a conclusões falsas. Por isso, ele não seria um critério seguro para demarcar “o que é” e “o que não é” ciência. Ele é importante, mas tem seus limites. Aqui, quero explorar melhor essa questão. Arrisco-me a dizer que o x da questão não é apenas que uma observação pode induzir alguém a uma conclusão falsa. A grande questão é que toda observação só faz sentido à luz de algum tipo de teoria. Comecemos com Charles Darwin (1809-1882). O cientista inglês era muito perspicaz, não apenas na biologia, mas em outras áreas envolvendo filosofia da ciência. Em 1861, ele escreveu uma carta a Henry Fawcett sobre uma situação curiosa que ocorreu no passado com os geólogos britânicos. Era o início do século 19 e os membros da Geological Society de Londres estavam cansados de intermináveis discussões teóricas e de explicações cada vez mais vazias sobre o desenvolvimento do planeta Terra. Assim, tomaram uma decisão extremista: não haveria mais discussões teóricas em suas reuniões. Eles apenas contemplariam “os fatos”, coletariam informações e fariam observações diretas. E, quando tivessem um conjunto relativamente significativo de dados, poderiam partir para uma teorização que fosse mais expressiva e consistente. Pelo menos era assim que pensavam. A visão de Darwin sobre o episódio é muito relevante:

“Há cerca de trinta anos, falou-se muito que os geólogos deveriam apenas observar, e não teorizar; e lembro-me bem de alguém dizer que, nesse ritmo, seria melhor um homem entrar numa pedreira e contar os pedregulhos e descrever as cores. Estranho que ninguém tenha visto que toda observação deve ser a favor ou contra alguma concepção para ter alguma serventia!”

O falecido Stephen Jay Gould (1941-2002) achou tão significativa essa última frase para pensar sobre o funcionamento da ciência que ela virou sua máxima preferida. “Toda observação deve ser a favor ou contra alguma concepção para ter alguma serventia!” Em outras palavras, uma observação só faz sentido à luz de uma teoria. Aliás, qualquer observação só faz sentido se uma teoria estiver pressuposta para lhe dar alguma base.

Pense no exemplo do próprio Darwin: sem uma teoria, como os geólogos saberiam qual rocha seria expressiva para observação e qual deveria ser ignorada? Aliás, alguma deveria ser ignorada? Eu teria que olhar e descrever todo tipo de rocha de um determinado espaço? Se sim, de que espaço? Para qual observação eu faria as anotações? E o que eu anotaria das rochas? Seria relevante anotar a cor? O tamanho? O peso? O formato? Ou essas coisas não têm importância? Seria pertinente anotar que eu encontrei uma rocha x, perto da rocha y, na camada z? Ou isso é irrelevante? Alguém pode se interessar por uma determinada rachadura, mas rachaduras são importantes? Sem uma teoria para dialogar é impossível responder de forma satisfatória a qualquer uma dessas perguntas. Elas exigem algum nível de teorização, algum tipo de abstração conceitual a fim de fazerem algum sentido.

Aliás, essas perguntas já pressupõem algum nível de teorização, e quanto mais sofisticadas forem as teorias que estiverem pressupostas, melhores serão as perguntas e mais aportes teóricos serão necessários a fim de guiar determinado experimento. Afinal, se eu fizer uma anotação de que encontrei a rocha x na camada y, ela só terá valor porque parto de uma teoria que me diz que, ao encontrar uma rocha numa determinada camada geológica, ela pode me indicar seu ambiente de formação e sua idade. Sem essa teorização, por que eu anotaria onde encontrei determinada rocha?

Um exemplo de observação esquisita poderia lançar luz maior sobre essa questão. Certa vez, Johannes Kepler (1571-1630) anotou em seu caderno: “Marte é quadrado e intensamente colorido.” O adjetivo “esquisita” demonstra bem minhas pressuposições: hoje sabemos que Marte não é quadrado, nem intensamente colorido. Como alguém pode se dar ao absurdo de anotar que um planeta é quadrado e colorido?

Um leitor mais atento diria que o erro de Kepler era fruto de uma observação feita em um telescópio galileano. Outro explicaria que a anotação de Kepler é irrelevante porque, na época dele, não se sabia que um planeta é esférico porque a força gravitacional dele atrai tudo para seu centro, incluindo sua massa, conferindo, assim, a forma esférica que ele possui. Ainda outro esclareceria que Marte tem uma aparência avermelhada, fruto das enormes extensões de solo árido de sua superfície.

Aqui, o importante é observar que todas essas correções não são fruto de uma observaçãoversus outra, mas pressupõem algum tipo de teoria, seja ela decorrente do funcionamento da gravidade de um planeta, seja do seu formato, seja do seu solo, seja ainda de um possível erro óptico que um telescópio galileano pode ocasionar. Mas, para eu ter a noção de que, ainda que veja no meu telescópio um planeta quadrado, essa observação não é segura ou não é relevante, é preciso que eu tenha em mente uma teoria sobre a formação dos planetas. Se assim não for, por que não seria relevante anotar que o formato do planeta que estou vendo é quadrado? Isso me traz um alerta importante: na ciência, uma teoria falsa e incompleta pode dar orientações falsas e incompletas, mesmo que eu seja um bom observador.

Teorias são importantes justamente por isto: elas ajudam a lançar luz nas observações que precisam ser feitas. Elas me auxiliam, me guiam a fim de que eu não faça uma lista interminável de observações vazias ou colete uma série de dados que sejam totalmente sem sentido. Por outro lado, as observações lançam luz sobre as teorias, ajudando a refiná-las e a aperfeiçoá-las. Ambas são como dois lados de uma mesma moeda: não há a possibilidade de existir um sem o outro.

(Bruno Ribeiro é formando em Comunicação Social [Rádio e TV] pela Universidade Federal da Paraíba e mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação na mesma instituição. Retirado do site Criacionismo.)

Referências:

CHALMERS, Alan. O que é ciência afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993.

GOULD, Stephen Jay. Dinossauro no palheiro: reflexões sobre história natural. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

MOURÃO, R. R. Freitas. O livro de ouro do Universo. Rio de Janeiro: Pocket Ouro, 2000.

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Nem só de observação vive a ciência https://missaoposmoderna.biblecast.com.br/2014/07/nem-so-de-observacao-vive-a-ciencia/ Sat, 26 Jul 2014 13:28:21 +0000 http://rabis.co/migramissaopos/?p=1960 Como funciona a ciência? Nesta série de textos, esperamos que os leitores possam aprender um pouco sobre o funcionamento de um dos mais importantes empreendimentos do conhecimento feito pelo ser humano. A concepção de ciência que encontramos popularizada no senso comum é fruto do indutivismo. Para quem o advoga, conhecimento científico …

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Como funciona a ciência? Nesta série de textos, esperamos que os leitores possam aprender um pouco sobre o funcionamento de um dos mais importantes empreendimentos do conhecimento feito pelo ser humano.

A concepção de ciência que encontramos popularizada no senso comum é fruto do indutivismo. Para quem o advoga, conhecimento científico é conhecimento que foi testado e provado. Esse tipo de saber seria seguro e absolutamente confiável porque começaria e dependeria apenas das observações e das análises empíricas. Em outras palavras, qualquer pessoa, empregando seus sentidos de forma rigorosa e utilizando ferramentas adequadas, pode fazer experimentos e obter um conjunto X de dados de forma objetiva. Na prática, ela pode perceber que um metal aquecido até a temperatura X sempre irá derreter ou que a água abaixo de Yº C sempre irá congelar.

Com os fatos adquiridos pela observação, o cientista formula leis e teorias que expliquem aquele dado fenômeno em condições universais, ou seja, dadas determinadas condições ambientais, o metal sempre irá aquecer e a água sempre irá congelar. Em tese, o conhecimento da ciência seria assim alcançado somente pela observação. Se os dados apontam para essa universalização, constrói-se uma teoria que sempre explicará essas informações. Os dados viriam antes, as teorias depois. Em tese, o que teríamos hoje como fatos científicos seriam frutos desse processo observacional, construída sobre fatos e que tem na experiência sua fonte de conhecimento – sendo, por isso, confiáveis.

Essa forma de descrever a ciência não faz justiça ao método cientifico e não é válida por várias razões. Um dos motivos é que o principio da indução não é logicamente válido. Explico: o que caracteriza um raciocínio dedutivo é que dada a veracidade de suas premissas, a conclusão é lógica e inevitável. Se for verdade que (a) tudo que começa a existir tem uma causa, e se for verdade também que (b) o Universo começou a existir, segue-se lógica e necessariamente que o (c) Universo tem uma causa.

Mas com a indução não funciona assim. Na indução é possível ter premissas verdadeiras e uma conclusão falsa. Na verdade, é possível até ter um número X de premissas verdadeiras e uma conclusão aberta. O interessante é que isso não é uma contradição. Afinal, para estabelecer uma regra geral, o raciocínio indutivo parte de um grupo particular de observações. E quantas observações seriam confiáveis a fim de oferecer uma generalização universal? É impossível saber. Depois de olhar um número significativo de gansos, não é possível dizer que todos os gansos são brancos. Isso por uma razão simples: nem todos os gansos do mundo foram observados. Pode existir em algum lugar do Universo um ganso que seja azul!

Um bom exemplo do por que o método indutivista não é logicamente válido foi dado por Bertrand Russel (1872-1970). É a estória do peru indutivista. Diz Russel que, numa“fazenda de perus”, um dos perus recém-chegados foi alimentado às 9h da manhã no primeiro dia. No segundo dia foi mesma coisa. Terceiro dia, idem. Quarto… Sempre às 9h, sempre pela manhã e sempre no mesmo horário. Mas, sendo um indutivista cauteloso, ele decidiu não se apressar em suas conclusões. Assim, resolveu analisar friamente e sem pressa uma grande quantidade de fatos.

Depois de observar uma grande quantidade de “dados”, depois de muitos (muitíssimos) dias de observação, o peru percebeu que sempre às 9h da manhã ele era alimentado, independentemente do dia, mês, tempo ou estação do ano. Faça chuva, faça sol, quente ou frio, dia útil ou feriado, quando dava 9h, estava lá o alimento.

Assim, o peru concluiu corretamente: “Sou alimentado sempre às 9h da manhã.” O problema foi que na véspera do Natal, às 9h da manhã, ele não foi alimentado, mas degolado. Suas observações eram corretas, mas sua conclusão não necessariamente era logicamente válida.

Moral da história: uma inferência indutiva, ainda que com premissas verdadeiras, pode levar a conclusões falsas. Na ciência, o método indutivo é importante, mas limitado. Afinal, quantas observações são suficientes para “justificar” um dado científico? Dez? Mil? Cem mil? E em quantas “condições diversas” é preciso fazer isso para garantir que a observação X é universal, sempre ocorreu, sempre foi assim e sempre será?

Um dos pontos interessantes é que, na indução, o contrário também é complicado, ou seja, uma única observação é capaz de induzir o observador para a conclusão X. Pense bem: quantas bombas atômicas precisam ser lançadas para concluirmos que bombas atômicas causam destruição em massa e trazem sofrimento para os humanos? Não seria inadequado pedir mais de uma? “Ah, mas isso parece óbvio.” Parece. O que é óbvio para uma pessoa pode não ser para outra. O “óbvio” se baseia, em grande parte, em nossa cultura, imaginário, conceitos e preconceitos. Ou seja, é algo relativo – não sendo por isso um guia confiável (afinal, não é obvio que o Sol gira em torno da Terra?).

Isso não quer dizer que o método indutivo e a observação não sejam importantes para o conhecimento cientifico. Eles são. É seguro dizer que a ciência se baseia em grande medida no método indutivo. Mas ele não é critério de demarcação para definir o que é ou não é “ciência”.

(Bruno Ribeiro é formando em Comunicação Social [Rádio e TV] pela Universidade Federal da Paraíba e mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação na mesma instituição. Retirado do site Criacionismo.)

Referências:

ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. São Paulo, Loyola, 2006.

CHALMERS, Alan. O que é ciência afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993.

RUSSEL, Bertrand. Os problemas da filosofia. Lisboa: Edições 70, 2008.

 

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